CARTA PARA BOLSONARO LER, ANTES DA ELEIÇÃO

Aparentemente, só um terremoto político, jurídico ou institucional de última hora tiraria a vitória de Jair Bolsonaro no próximo domingo, dia 28. Ele conquistou o imaginário do povo por meio de uma identidade de linguagem e de sentimentos esperançosos, sobretudo como uma avassaladora promessa antipetista. O lulapetismo exauriu a esperança da nação, até mesmo por sua arrogante hipocrisia, mesmo estando atrás das grades.

A questão central agora é o que Bolsonaro fará com o país e, não menos importante, o que o país fará com Bolsonaro, caso ele o decepcione seja por incompetência ou por atos autoritários temidos até mesmo por analistas políticos internacionais. Ele não é um Trump, nem o Brasil é os Estados Unidos, para que sejam comparados. O temor em relação a possíveis atitudes radicais e extremistas permanecem como enigma e temor.

Ele foi ligeiro em desmentir o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), seu filho, que postou mensagem ofensiva sobre fechamento do Superior Tribunal Federal (STF), como se tivesse esse poder. O pai, Jair, rapidamente emitiu um entendimento de que quem faz tal manifestação precisa de tratamento “psiquiátrico”.

Na situação real do Brasil, arrasado por incompetentes em série, como o presidente Michel Temer, que já vai tarde e terá que se defender das sérias acusações que lhe são atribuídas, somente uma conciliação nacional – franca, humilde, honesta, verdadeira e aberta – pode trazer alento de um governo operante capaz.

Bolsonaro terá que governar para todo o País e, mais, terá que ouvir os brasileiros e se entender com eles, pois sem apoio popular, com efeitos notáveis em melhorias efetivas para a população, correrá o risco de sofrer desgastes insuperáveis. Há sempre um desnível entre as falas de campanha e a realidade objetiva do governante empossado.

Como será sua relação com o Congresso Nacional [Câmara e Senado], renovado significativamente por eleitos pela primeira vez, mas tingido por uma pegajosa cola de maus hábitos e cumplicidades com o Executivo no que se tornou um lamaçal de corrupção.

Como se relacionará com o Poder Judiciário, também escangalhado por imagens deprimentes, com a força produtiva brasileira, com os trabalhadores desempregados e milhões de famílias esmolando por serviços básicos como saúde, segurança, educação?

É preciso também controlar a diabólica polarização partidária rotulada de esquerda/direita e seus nefastos efeitos sobre o Brasil real. Aqueles que tentam amedrontar com insinuações de que se, eleito, haverá uma insurreição popular por parte dos seus antagonistas talvez se esqueçam que o Brasil, apesar da enorme mancha da corrupção, é uma constelação com mais de 200 milhões de pessoas que precisa de um mínimo de paz para continuar a existir e acertar seus rumos.

Não é admissível que um grupo de pessoas, legitimado por uma eleição, se autodenomine dono do Brasil e faça o que bem quiser ao arrepio das leis da Constituição Federal que não poderá ser rasgada ou jogada no cesto do lixo, sem que consequências inimagináveis aconteçam.

Se é mesmo Bolsonaro o preferido da maioria do povo brasileiro, que ele desperte e tome consciência plena do papel que lhe cabe e das responsabilidades que lhe competem e, sobretudo, não militarize o espírito dos brasileiros e congele a ideia inoportuna de armar a população para evitar que ocorra uma guerra fratricida diária e a conta-gotas por todo o país.

Muito além da miopia de muitos, ainda há muita vida inteligente sob os céus do cruzeiro do sul. O Brasil é muito maior do que uma ou um grupo de pessoas que ascende aos poderes instituídos. Tomara que os anjos existam e lancem luzes no coração e na mente de Jair Bolsonaro e possa cumprir um papel histórico digno e correto com a pátria a que deve servir com amor solidário. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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