NEUROEDUCAÇÃO – “O CÉREBRO PRECISA SE EMOCIONAR PARA APRENDER”

Os limites aos conhecimentos humanos são um excelente estímulo para a busca ininterrupta de descobertas. A cada dia, em algum lugar do planeta, um pesquisador completa um quebra-cabeça e anuncia a novidade que pode mudar nossas vidas.

É raro encontrar um jovem estudante totalmente confortável com a educação oficial obrigatória [obsoleta] à qual tem que se submeter por falta de alternativa, ainda que não verbalize seus sentimentos.

Estudar deveria ser uma agradável experiência diária, mas é tida como atividade chata, por ser impositiva e não considerar as características e sonhos peculiares de cada estudante.

Às vezes é mesmo um pé no saco aturar certas aulas convencionais que não estimulam a curiosidade natural dos aprendizes.

Há uma desconsideração mecânica com os indivíduos, na medida em que há diretrizes inflexíveis sobre o que deve ser ensinado e é bem provável que os próprios docentes se sintam reféns de padrões inflexíveis e engessantes.

Ir à escola jamais deveria ser uma coisa “chata” e sim atrativo para cada um encontrar uma significativa razão para realizar ensaios e experiências de crescimento pessoal mediante novos conhecimentos.

Está certo o neurocientista espanhol Francisco Mora ao afirmar que “só se aprende aquilo que se ama”, por meio da emoção. “O cérebro precisa se emocionar para aprender. A emoção serve para armazenar e recordar de uma forma eficaz” (o que se aprende).

Mora leciona em universidades norte-americanas e espanholas. É autor do livro Neuroeducação. Só se pode aprender aquilo que se ama [2013, Alianza Editora, Espanha], ainda sem versão em português.

Ele é categórico em sua provocação: “É com emoção que se desperta a curiosidade e desencadeiam os mecanismos neurais de aprendizagem e memória.”

O pesquisador norte-americano David Aususel (1918-2008) constatou que “um dos prazeres mais naturais e espontâneos é o de dar significado às coisas e ao Universo. O processo de aprendizagem de verdade só ocorrerá se for significativo a quem aprende.”

Aparentemente, tirantes as paróquias intelectuais de especialistas em processos pedagógicos experimentais, no país-continente chamado Brasil continuamos caudatários das visões avançadas no campo das neurociências aplicadas à educação.

No cenário real avançamos a passos de tartaruga, exatamente pelo pouco valor que as “elites” governantes do país conferem à educação emancipadora.

Reconhecemos os esforços heroicos empreendidos por professores apaixonados pelo que fazem e que procuram dar o melhor de si para tornar a arte do ensino um atrativo para o real interesse dos alunos.

Mas, de modo geral, ainda engatinhamos em relação ao que há de mais avançado no mundo. O que se valoriza, entre nós, é a preparação para o mercado de trabalho que, na realidade, vem se retraindo.

O estonteante avanço da tecnologia tem determinado fim de  funções tradicionais, simultaneamente com um processo econômico impiedosamente competitivo e perverso.

Enquanto milhões de brasileiros estão sem emprego ou vivendo de biscates e subempregos, as novas gerações não encontram porta aberta para ingressar no primeiro emprego.

Esse fato gera um dos maiores conflitos diante da falta de perspectivas profissionais e seus efeitos correlatos de crises psicológicas existenciais, às vezes extremas. O paradoxo é evidente: a educação prepara as novas gerações para o mercado de trabalho extremamente abaixo da demanda. Isso vem causando uma indisfarçável crise existencial na juventude, gerando ansiedades gritantes.

Nesse cenário, a neuroeducação*, com suas propostas evolutivas, pode ser mais útil e proveitosa, na medida em que prepara os jovens para a vida e estimula seus potenciais, a fim de que criem um espaços próprios para realizações gratificantes.

Aparentemente, não interessa ao Brasil oficial e protetor do status quo que haja uma educação que liberte as pessoas pela aquisição de conhecimentos com esse propósito, mas que se reproduzam distantes da própria individualidade

É dolorido ver tantos jovens com imenso potencial se perderem no deserto de um ensino desumanizante e equivocado. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

*Neuroeducação –  disciplina que estuda como o cérebro aprende.

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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