ARTIGO – O QUE SERÁ DE TI AGORA, IBIÚNA?

Acompanhei pela TV o julgamento do recurso do Fábio Bello e gostaria de compartilhar uma perplexidade: alguém entende o juridiquês que os juízes-ministros do TSE falam? A gente acaba sabendo com esforço e ajuda de um especialista, mas precisa de um dicionário ou glossário, para traduzir palavras típicas de um código hermético, de conhecimento privilegiado de eleitos e escolhidos. Não é língua para o povo entender; é para poucos. A gente sabe a origem histórica e econômica da justiça e que ela é exatamente assim para que se mantenha intocável em sua sacralidade absoluta.

São sérios, formais no vestir, no falar, e extremamente eloquentes no julgar. Por que deixaram passar tantos meses para decidir essa parada? A relatora explicou que foi o caso mais tumultuado dessa safra eleitoral. Quando trabalhei em Brasília, ouvi: “Brasília fica muito longe do Brasil” e se não fossem os jatos, as micro-ondas e, sobretudo a internet nos anos mais recentes, ficaria em outro planeta.

A que distância fica a justiça do Brasil real, da proximidade dos fatos onde eles acontecem? A ministra-relatora admitiu não ter lido alguns documentos do processo. Será que ouvi direito? Também me perguntaram ontem à noite [quando fui às ruas mais uma vez, para cobrir a comemoração dos fabistas, ouvir os fogos, ver a carreata ruidosa, muita gente tomando cerveja]: “Você também é Fábio Bello?” Respondi: sou jornalista, noticio fatos, de modo técnico, científico. Tanto o senhor Paulo Niyama, de triste e nefasta lembrança para esta cidade, quanto Fábio Bello, de alguma forma foram injustos comigo, por ter sido eu um jornalista profissional sério, que pensa com autonomia intelectual, moral e ética, por uma matéria que escrevi e publiquei por ocasião da convenção de Fábio, completamente isenta e reportando o que de fato aconteceu. Ao processo aberto contra Fábio por propaganda antecipada, os advogados da coligação de Niyama incluíram-me, razão por que acabei multado em R$ 5 mil, um fato inédito em toda minha longa carreira no jornalismo brasileiro. Na argumentação dos advogados processantes li coisas nauseantes. A justiça eleitoral foi impiedosa e glacial.

Agora, nesta noite de quinta-feira, vejo os partidários de Fábio eufóricos, buzinando seus carros nas ruas, muitos dos quais vão substituir os atuais “residentes” da prefeitura: secretários, amigos dos amigos, cabos eleitorais,

parentes. O que exatamente vai mudar? Quando os partidários do prof. Eduardo fizeram o enterro simbólico de Fábio e de alguns de seus aliados, isso constituiu uma provocação que poderá ser lembrada agora. Mas, nada como um dia após o outro. O que será feito de Ibiúna, uma cidade falida (segundo reiteradas manifestações do atual prefeito), administrativamente caótica, com foco difuso e sem direção? Cidade cansada das mentiras e incrédula (li dezenas de comentários no Facebook, tipo “Agora vai afundar de vez”) com os políticos. Fábio Bello será, então, o grande salvador de Ibiúna, que sente falta de emprego para seus filhos, que se atola no barro das estradas de terra, que continua tendo um sistema público de saúde precário (aliás, como em todo o Brasil), com uma fila de gente batendo na porta da prefeitura para cobrar dívidas de muito atrasadas?

Fábio terá aprendido e se convertido (e se purificado) com a experiência de dois mandatos anteriores e das acusações que lhe foram imputadas? Bem, isso é o que saberemos nos capítulos seguintes de mais uma novela político-ibiunense que a revista vitrine online acompanhará de perto para cumprir bem a missão de bem informá-lo, leitor. A única esperança efetiva está na força da juventude ibiunense, que aprendeu o caminho das ruas, da defesa dos seus direitos e da população em geral. Ou a sociedade civil de Ibiúna acorda de vez ou terá que amargar ainda muito tempo para descobrir que o caminho que conduz para o inferno tem muitas rotas de fuga para o caminho do bem.

Carlos Rossini é editor da vitrine online

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.