BRASIL – ANÚNCIO DE INTENÇÃO DE CORTAR RECURSOS PARA DISCIPLINAS HUMANAS PRENUNCIA UMA “FÁBRICA” DE ROBÔS
O presidente Jair Bolsonário anunciou hoje (26), pelo Twitter, que o Ministério da Educação estuda “descentralizar o investimento em faculdades de filosofia e sociologia”. O objetivo dessa medida, segundo ele, é “focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como veterinária, engenharia”.
Ainda de acordo com sua mensagem, o propósito do governo é ensinar “para os jovens a leitura, escrita e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade em sua volta”.
Se isso não for apenas um factoide, mais uma provocação de seu estilo, se essa medida for efetivada o novo governante estará condenando o país a um processo de robotização mental de uma estupidez pedagógica gigantesca, impondo uma camisa de força a criticidade cidadã que é indispensável ao equilíbrio mínimo dos regimes democráticos.
A esperteza ideológica de Bolsonaro não consegue disfarçar a existência de mais de 13 milhões de desempregados no País, uma realidade cruel e paradoxal, ainda que estudar para ter uma profissão seja um fato de relevo.
O Brasil já sofre cronicamente de uma desumanização cruel, assim como de uma violência fora do controle das instituições públicas. Assim, a falta de investimento nas disciplinadas rubricadas como “Humanidades” seria uma catástrofe com efeitos inimagináveis.
Ao participar de uma transmissão ao vivo pelo Facebook, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse achar que “a função do governo é respeitar o dinheiro do pagador imposto”. E acrescentou:
“Então, o que a gente tem que ensinar para as crianças, para os jovens? São, primeiro habilidades, de poder ler, escrever, fazer contas.”
Então, qual é a novidade que se verifica nas palavras: nenhuma. Isso já acontece nas escolas.
A respeito da retirada de recursos das faculdades de humanas, Weintraub citou o exemplo do Japão. “Ele (Japão) está tirando dinheiro público do pagamento de imposto de faculdades que são tidas como para uma pessoa que já é muito rica ou da elite, como filosofia”, disse o ministro. E pontificou:
“Pode estudar filosofia? Pode, com dinheiro próprio.”
Pois é, o ministro foi usar um exemplo do Japão, um país desenvolvido, moderno, em que a população é respeitada e muito longe da brutalidade da realidade brasileira, que mal consegue se livrar da tenebrosa nuvem da corrupção que o assola e continua mantendo hábitos políticos que consagram o fracasso das instituições públicas em praticamente todas as esferas de sua competência. Em vez de evoluir, parece que tendemos ao retrocesso. (C.R.)