ANGÚSTIA DE DOMINGO – É POSSÍVEL SE LIVRAR DELA E APROVEITAR BEM O DIA
A angústia dos domingos, especialmente nas tardes ou anoiteceres desses dias, guarda uma relação direta da noção que cada um de nós tem do tempo e do que fazer com ele.
Não se trata aqui da observação dos fatos propriamente ditos, o almoço familiar, a reunião de amigos, a partida do futebol, a ida à igreja ou ao templo, porque essas são formas socialmente relevantes.
Também não se trata da representação que fazemos desses acontecimentos, porque eles tornam a vida mais leve, pois precisamos do contato, da relação com o outro que nos valida como seres humanos.
Falamos aqui de um tema universal que se traduz num desassossego interior que se revela como sensação sem que sua causa se manifeste com clareza, tipo “droga, amanhã é segunda-feira, tudo vai começar de novo!”. Aí se insere uma espécie de contradição interna de uma certa rejeição à rotina.
Isso, na verdade varia de pessoa para pessoa. Há indivíduos que nem percebem a passagem do tempo ou veem a volta à rotina como uma coisa prazerosa, pois essa é uma maneira de se “distrair” de si mesmo e se entregar ao mundo dos objetos em torno dos quais vai circular, seja em relação ao trabalho ou aos estudos.
Como, em princípio, por força do sistema econômico sob o qual vivemos, não somos donos do nosso tempo na medida em que temos que obedecer as regras impostas para atuarmos no mundo para assegurar nossa existência material.
Nosso tempo, nessa era pós-industrial, é determinado por leituras biométricas quando chegamos ao nosso trabalho, o que significa a partir de agora seu tempo passa em certa medida a não mais lhe pertencer, e a cumprir suas obrigações contratuais.
Da mesma forma, nosso tempo é controlado e dividido entre entrada, hora do almoço, saída. Nesse período, sua mente se dedica aos fazeres, independentemente do que você sente, pensa, deseja. Ou seja: você torna-se um não-você, pelo menos em grande parte.
Por outras palavras, seu ser interior ou subjetividade precisa ficar recalcada, a fim de que você possa desempenhar suas responsabilidades, mesmo, às vezes, que sinta dor de cabeça ou uma dolorida turbulência afetiva.
Então, quando chega o domingo, você pode ter o seu tempo livre e a pergunta se apresenta: o que faço dele ou com ele, além de assistir à partida de futebol na TV ou ao Domingão do Faustão? Veja que em ambos os casos se torna num ser passivo grudado na tela da televisão (pensar é dispensável), mas e quanto a perceber que a vida é muito mais do que isso?
Os gregos inventaram a estética, nos ofertando a ideia do prazer do contato com a beleza, mas a palavra vai além disso para significar sensibilidade. Sensibilidade é uma faculdade importantíssima para tornar sua vida mais autêntica e é exatamente ela a mais sacrificada no paradoxo entre trabalho e lazer ou ócio.
Depois que o Minnesota State Hospital, nos Estados Unidos, descobriu que, no domingo, algumas pessoas manifestavam falta de entusiasmo semelhante à dos pacientes com depressão, a neurocientista Tali Sharot, no famoso fórum de tendências – TED, declarou: “As pessoas tendem a preferir a sexta-feira ao domingo porque na sexta nós vemos o fim de semana que chegará e, no domingo, a única coisa em que pensamos é na semana de trabalho.”
Claudio Martins, da Associação Brasileira de Psiquiatria, observa que pessoas que sofrem com mudança de rotina ficam perdidas ao ter que preencher o domingo. “Gente sem um núcleo afetivo estabelecido, familiar ou amoroso, sente um vazio.” Já os que gostam do trabalho ou têm um bom relacionamento afetivo e se divertem com os amigos tendem a gostar mais desse dia.
Como se vê, nem tudo está perdido, porque as pessoas podem adquirir conhecimento no sentido fazer escolhas. Ou seja: podem escolher o que vão fazer e aproveitar cada momento para serem si mesmas, de modo autêntico e viver momentos felizes seja em experiências solitárias ou junto com as pessoas que amam.
Horácio, em um dos seus poemas, celebrizou a expressão latina carpe diem que significa ‘colhe o dia” ou aproveita o momento. Isso também quer dizer para você não gastar o tempo com coisas e pensamentos inúteis com medo do futuro. Viva o presente como uma oportunidade de se realizar como ser de modo alegre, confiante no fato de que a única coisa constante na vida é a mudança. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)