CRÔNICA – UM LUGAR NO MUNDO
Tem dias em que acordo com aquela vontade de respirar um ar salgado e de sentir o vento nos ouvidos. Geralmente, quando isso acontece, balanço a cabeça e me livro de tais pensamentos.
Lembro-me dos dias em que passei com minha tia na casa da praia. Tudo tão deserto, paisagem plana e areia de esquentar os pés. Por lá, a noite costumava ser calma, apenas com o som das ondas. Diferente da cidade de onde venho, onde o único momento que tenho silêncio é em noites de festa, quando chego embriagado e a primeira coisa que faço é deitar no sofá.
Mas entre ondas, sol quente e paisagem deserta, o que mais me chamava atenção era aquela sensação maravilhosa de lugar puro. A areia era suja, mal dava para andar, as conchas tomavam o lugar do chão. A água muitas vezes estava gelada demais ou o sol me suava logo após o banho. Mas tudo bem! É disso que eu gosto. É, meu caro, nem mesmo o meu porto seguro é um paraíso. Talvez até seja, mas só para mim.
Esse ambiente me lembra dos bons tempos de criança, quando brincava de montar castelos de areia com o meu primo. Éramos tão bobos, assim como qualquer criança. Ficávamos ali, parados, sentados na beira do mar sujo o dia todo.
É então que o som das ondas quebrando, a sensação das conchas machucando meus pés e o cheiro de peixe atiçam todos os meus sentidos. Talvez o ato de balançar a cabeça e espantar pensamentos não esteja mais funcionando tão bem assim. Talvez esta vista cheia de prédios e pessoas que tenho da janela do meu escritório não seja tão mais interessante que meus devaneios. Talvez eu deva visitar minha tia um dia desses. Talvez, quem sabe?…
Isadora Secol, estudante de Design Gráfico
e equipe da vitrine online.