ENSAIO – A VIDA É MAIOR DO QUE OS SEUS PROBLEMAS

Ouvir um concerto de cello e piano resfresca a mente! Flutuar com a doce e lisa dança dos sons que voam como uma pluma no ar. Sentir a leveza da alma em estado de graça, nos liberta, por alguns instantes, dos problemas impostos por uma sociedade doente povoada por linguagens ásperas como lixa.

Compartilho com você, leitor ou leitora, que dirige seu olhar para estas palavras,  um sentimento de afeto e ternura.

Se tiver por perto um relógio, digital ou não, faça uma pausa na leitura agora e observe como passa………………cada segundo de sua vida que jamais se repetirá, enquanto seu coração pulsa numa cadência muitas vezes imperceptíveis.

Um pássaro passa como um raio refletido na tela do computador. De onde veio? Para aonde vai? Como surgem seus pensamentos e onde se escondem dentro de você? Você os percebe claramente ou nem se dá conta deles?

Como você vê si mesmo, suas emoções, seus sonhos, as imagens que aparecem em sua tela mental? Ou será que nada disso é percebido como se não existissem?

Invariavelmente, pergunto nos seminários que ministro onde vocês vivem? “Vivo aqui, no meu trabalho, na minha casa, no meu bairro, na minha cidade”. É raríssimo alguém responder que vive em sua mente, o lugar real da existência. Mesmo que seu corpo esteja aqui concretamente ou num vilarejo da Índia, sempre viverá em sua mente.

É aí que você pensa, sente, sonha, imagina, não importa o lugar e as circunstâncias em que esteja o seu corpo. É daí, por meio dos seus sentidos, que vê o mundo e a si mesmo. Também está aí sua definição de ser como pessoa. Cada um vê, com mais ou menos clareza ou limites, de uma forma específica, única e variável.

Basta uma pergunta para ver-se impactado de modo tão surpreendente: “Quem é você?” Tente responder. Veja o que acontece. É preciso um preparo e tanto para começar a responder, desde argumentos automáticos e superficiais, é o mais comum, para descobrir o quanto você vive longe de você mesmo.

Estamos habituados a sermos atraídos pelos fenômenos que ocorrem fora de nossa pele, para os objetos, os outros seres como você ou os animais, as árvores, as montanhas, os rios, o mar, o sol, o céu, que acabamos absorvidos pelas coisas de fora. Isso acontece todo instante. Seus olhos e ouvidos captam milhares de imagens e ruídos, initerruptamente, que, não raro, fica difícil pegar no sono.

Há milhares de aspectos, exteriores e interiores, que não percebemos, mas que ficam registrados em nossa memória profunda. Também há, no entanto, fenômenos que nos dizem respeito diretamente, sobretudo se forem percebidos como ameaças, conflitos, problemas ou algum tipo de fato que exige de nós alguma ação.

A maneira como você vê o mundo e a si mesmo é o resultado de sua história de vida, desde o seu nascimento até o agora. Entendemos que você é resultado de tudo aquilo que interpretou e interpreta dos fenômenos [tudo que é percebido pelos seus cinco sentidos].

A maneira como você percebe as coisas é diferente da minha. Um arquiteto, um cineasta, um poeta, um músico, um pintor, um equilibrista saberão usar os conhecimentos adquiridos de um modo que a um leigo só resta mesmo admirar. Mas, uma pessoa simples, iletrada ou mesmo portadora de algum limite físico severo pode realizar prodígios.

Vi pessoas sem braços e mãos pintar quadros encantadores utilizando apenas dois dedos do pé. Vi um homem que somente possuía uma parte, talvez metade do cérebro, em magistrais interpretações ao piano, depois de ter ouvido a música apenas uma vez. Todos os dias, graças à Internet, vemos ao redor do mundo seres humanos, incluindo crianças e adolescentes, realizarem coisas de tirar o fôlego.

Vi ainda hoje um cirurgião geral dar testemunho que poderiam ser considerados milagres considerados impossíveis ao olhar científico.

Somos, realmente, seres de infinitas possiblidades, mas, e isto se ensina no curso de formação de roteiristas de cinema, a arte, ao reproduzir a vida, acaba por absorver e, talvez nem poderia ser diferente, a presença do inesperado, seja na comédia, no drama e na tragédia.

A vida de fato é cheia de surpresas, de avanços e recuos, de altos e baixos e nos coloca todos, sem exceção, aos seus termos. Parece, como afirmou o filósofo e teólogo Mário Cortella em uma de suas palestras, que o único lugar seguro é quando estamos no útero de nossas mães.

Quando deixamos a silenciosa piscina de água morna e reconfortante, onde absorvemos o oxigênio e a energia vital da nossa mãe, levamos um choque pela mudança ambiental. “Viver – ele disse – é perigoso!”. Mas não há como negar que a vida é o mais belo presente que recebemos.  Uma única vez. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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