MUDARAM OS NOMES DAS RUAS DE IBIÚNA?

Hoje tive um sonho. Estava perambulando pelas ruas de Ibiúna. No céu havia uma lua brilhante. De repente, olhei uma placa da rua. Era um nome estranho, diferente. Movido pelo espanto e curiosidade, segui para outra via e lá, também, a denominação era outra. Então decidi andar em outras vias. Incrível! Nenhuma delas tinha nomes de pessoas.

Uma delas se chamava “rua da Paz”; outra, “rua da Esperança”. Numa viela estava escrito “Travessa da Verdade”. Numa descida, habitualmente de grande movimento, se via “rua dos Professores”. Na praça encimando um poste de ferro se lia “praça da Fé”. Na avenida que circunda a cidade aparecia com todas as letras “Tome cuidado!”. Em outra praça, na parte alta da cidade, a denominação era “Mas o que está acontecendo?”. Nunca havia visto uma via pública com uma interrogação.

Segui minha jornada solitária pelas ruas desertas. E vi muitos nomes estranhos: “rua da Saúde”, “rua da Coragem”, “rua do Tapume”, “rua do Abra os olhos”, “rua da Estranheza”, “ rua da Arrogância”, “rua da Redoma”, “rua dos Caras”, rua dos Estranhos Amores”, “rua do KKKKKK”, “rua do Pinote”, “rua do Pitaco”, “rua do Silêncio”, “rua dos Celulares”, “rua do Pixote”, “rua dos Atores”, “rua do Circo”. “praça do Medo”, “rua Orai Por Nós”, “rua do Imbróglio”, “rua da Mudança”, “praça da Justiça”, “rua Sem Nome”, “rua do Mercado”.

Conclui que estava num lugar estranho. Essa não era a minha cidade. Senti-me perdido, deslocado, como se fosse um ET recém-chegado em uma espaçonave. Afinal, os nomes que são dados às vias públicas em geral homenageiam personalidades beneméritas e, sobretudo servem de referência para localizações seguras dos lugares onde estamos, aonde vamos ou queremos ir.

Mas não sabia que se tratava de um sonho, porque tudo me parecia real. Sim, essa deveria ser minha cidade, mas parecia que alguém tinha feito uma travessura para confundir-me, como se pretendesse tornar-me prisioneiro de um labirinto cujos caminhos eram opacos.

A partir de certo momento queria encontrar um ser vivo, bem informado, que me ajudasse a entender o que estava acontecendo, mas minha busca foi em vão. Tudo parado, rígido como uma pedra intocável, e aquelas placas e aqueles nomes, o que queriam dizer?

Como, na maior parte das vezes, recordo meus sonhos, assim que acordei tentei interpretar, como aprendi com um professor de filosofia, muito querido dos alunos, que nos ensinava psicanálise e interpretação dos sonhos. Mas, confesso, não consegui identificar seu significado. Talvez fosse uma tentativa da minha mente de procurar saber o que está acontecendo com a nossa cidade. Talvez isso, porque quando estou acordado sei muito bem que há razões de sobra, muitas vezes, para entender em que a realidade e a fantasia se confundem, pelo menos na cabeça de alguns. (Carlos Rossini é editor de vitrine online) 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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