EXCLUSIVO – Duas vozes femininas vão mudar o tom na Câmara Municipal

Aline do Rosarial (DEM) e Rozi da Farmácia (PV) serão raras presenças femininas na Câmara Municipal de Ibiúna que se instalará no dia 1º de janeiro, já que a quantidade de edis no município saltou de dez para quinze e foram eleitos treze homens e somente duas mulheres. Em entrevistas exclusivas para a vitrine online Aline e Rozi mostram que estão prontas para fazer a diferença, conscientes do papel histórico que lhes foi entregue pelos eleitores.

Desde que foi criada há 155 anos, a Câmara Municipal de Ibiúna contou, até hoje, com somente três vereadoras. A primeira mulher, Neusa Ferreira de Souza, foi eleita em 1983, trinta e seis anos depois da primeira eleição realizada em Ibiúna, em 1947, com o fim do Estado Novo e a abertura democrática marcada pela Constituição de 1946. Neusa foi reeleita em 1997 e cumpriu um segundo mandato. As outras duas vereadoras da cidade foram Luiza (Lila) Domingues Vieira Reviglio e Magaly Aparecida Prestes Preto. No âmbito do Executivo coube à Dra. Margarida Giancoli Reguengo a primazia de ser a primeira candidata a vice-prefeita junto com Zezito Falci, que não conseguiu se eleger em 1978, o que aconteceria em 1982, mas com outro vice.
Com a eleição de Aline e Rozi sobe para cinco o número de mulheres vereadoras e se abre a esperança que doravante possa haver mais equilíbrio na composição da Casa, até mesmo no que diz respeito ao decoro parlamentar. Leia o que elas pensam e com que disposição, a partir de agora.

Aline: condição da mulher

e crianças especiais

Aline Borges Alves de Moraes, 27, foi eleita  vereadora em Ibiúna pelo DEM com 715 votos, já em sua primeira candidatura.  Um feito notável, primeiro por ser mulher; segundo porque disputou com mais de trezentos concorrentes. Ela interpreta esse resultado por ter sido herdeira de parte dos votos do marido, Claudinho do Rosarial, 41, [ele resolveu concorrer ao cargo de vice-prefeito com o derrotado candidato a prefeito pelo DEM, Paulo Niyama], aos contatos que fez nos últimos quatro anos em todas as regiões de Ibiúna, quer auxiliando as atividades parlamentares de Claudinho quer participando de ações sociais na cidade.

Formada em Administração de Empresas, trabalha como administradora do escritório de contabilidade do marido.  Aline do Rosarial, irmã mais velha de onze irmãos, natural de Carapicuíba, se define como “uma mulher sincera, forte e batalhadora”. Em relação ao jogo político que terá de encarar na Câmara.

Sua linha de atuação está claramente definida: vai se dedicar à causa da mulher ibiunense e às crianças que precisam de atenção especial. Aline disse que está preparada “para atender às necessidades do município” Municipal, incluindo duas “cobras criadas” entre os três edis que se reelegeram, afirma não ter “medo de enfrentar o medo, porque, em primeiro lugar, creio na proteção de Deus”.

Entre suas ideias se incluem ações para a implantação da Delegacia da Mulher em Ibiúna, que considera necessária, visando à saúde da mulher, da mulher gestante, das gravidezes precoces, nestes casos também com orientações e palestras especializadas como iniciativas da Prefeitura.

Aline brinca dizendo que se fosse homem teria recebido mais votos, porque a mulher ainda é vista com preconceito, “apesar de elas estarem cada vez mais participantes na sociedade. Em Ibiúna são maioria absoluta nos cursos universitários”.

Aline entende que, politicamente, as relações entre o Legislativo e o Executivo devem ser harmoniosas em benefício do município e que dará continuidade ao trabalho que vinha sendo desenvolvido pelo seu marido: “Sou a sucessora do Claudinho na Câmara Municipal”.

Rozi: ajudar a construir

uma nova Ibiúna

Rozi da Farmácia se considera uma “guerreira, pessoa honesta e do bem”. Como “ibiunense da gema” ama a cidade e sua população e vai se dedicar no Legislativo a ajudar a construir uma nova Ibiúna, “começar do zero”, pois “perdemos nossa identidade”. “Já fomos uma cidade conhecida por sua agricultura, depois nos transformamos em uma estância turística, e agora não sabemos quem somos.”Farmacêutica e ex-professora no Ensino Fundamental, Rozi Aparecida Domingues Soares Machado, 48, foi eleita vereadora em Ibiúna com 993 votos pelo PV, em sua terceira disputa por esse cargo. A primeira foi em 2004 (434 votos) e a segunda em 2008 (584 votos), quanto chegou à primeira suplência, tendo assumido o cargo por um breve período.

Uma das duas únicas mulheres eleitas em outubro, pretende, com espírito construtivo, junto com seus colegas ajudar a dar uma virada no município,”pois pelo que vemos não estamos na UTI e sim no IML”, diz no sentido geral, mas referindo-se mais especificamente à situação da saúde pública, ela que é farmacêutica e sente diretamente os reflexos da precariedade do atendimento ao público.”

“As pessoas chegam até mim desesperadas, angustiadas, sofridas, em busca de apoio e de medicamentos que não conseguem do poder público municipal”.

Rozi tem a sensação de que a cidade “está abandonada em todos os aspectos”, mas o que mais a incomoda é a situação da saúde e do ensino, áreas a que pretende se dedicar com mais afinco, pois sabe por experiência própria o quanto sofre os familiares de um paciente – tendo passado por uma sofrida experiência pessoal com seu filho ainda pequenino “Mas felizmente pude contar com o apoio de minha família e essas pessoas carentes, quem cuida delas?”

“Há casos que pai e mãe levam filho ao hospital e nem chegam a ser examinados corretamente”, diz Rozi, ressalvando reconhece o esforço de alguns profissionais da saúde que procuram fazer seu melhor, “mas o próprio corpo clínico está desamparado”.

“Sei que os próximos quatro anos não serão fáceis, mas quero me sentir útil e tenho consciência que os resultados poderão não vir imediatamente, mas vejo o futuro, penso em nossos filhos, nos nossos netos, no futuro de nossa querida Ibiúna”.

Por Carlos Rossini

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.