LÁGRIMAS

Acabo de ler a notícia de que uma jovem de 21 anos morreu neste sábado (21) de covid-19 na cidade de Jales, no interior paulista, onde estava internada desde o início de março.

Era estudante universitária de Estética, cheia de sonhos, e nem ficou sabendo que seu pai havia morrido no dia 3 de março, o pai que um mês atrás lhe fez uma emocionante homenagem pelo seu aniversário, gravada em um vídeo.

Restaram na família a mãe, dois irmãos e o marido com o qual ela começou a namorar quando tinha treze anos e a dor da saudade.

É difícil não se comover às lágrimas diante de noticia como esta. A morte por complicações da covid-19. Todos os dias em todos os lugares do Brasil vidas estão sendo ceifadas por um vírus terrível nas próprias casas das pessoas, nas filas de espera por uma internação, nos corredores, nos interiores saturados dos hospitais.

As pessoas estão caindo como se estivessem diante de um pelotão de fuzilamento sem apelação e sem trégua, num cenário de caos impiedoso. E parece inútil apelar para princípios éticos e morais, porque na dura realidade jamais se viu tanta facilidade para perder a vida de uma hora para a outra.

E ninguém está livre da doença e da morte. O vírus se transmite de pessoa para pessoa por meio do ar, invade as células e as mata dentro dos pulmões, dos rins, do cérebro, circula pela corrente sanguínea e põe fim à vida num piscar de olhos, mesmo que a pessoa seja forte, saudável e atlética.

O maldito vírus, no entanto, não tem capacidade de matar sentimentos, afetos, ternura, amor que unem as famílias e que nos constituem como seres humanos.

Por isso, choramos pela jovem jalesense que acaba de perder a vida e por todos aqueles que, já próximos de somar trezentos mil, viveram a mais dolorida morte feita, até que sejam entubadas e anestesiadas, da mais profunda dor, solidão e distância das mais queridas pessoas de suas vidas.

Estamos, todos, percorrendo – ou sendo levados – por estranhos caminhos feitos de medo pelo desconhecido sem saber o dia de amanhã, o que gera uma ameaça atroz à nossa necessidade de nos sentimos seguros no mundo.

Mais do que nunca precisamos do amor fraterno e solidário construído com fios da esperança, sem o qual podemos perder a noção do tempo e do espaço quando – isso vier acontecer, e não sabemos exatamente quando – avistarmos a outra margem do rio para prosseguirmos a nossa breve jornada neste planeta tão belo e fascinante. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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