FILA PARA PEGAR RESTOS DE AÇOUGUE MOSTRA QUE O BRASIL ESTÁ OSSO, LITERALMENTE

Isto que o leitor vê na foto é um luxo inacessível para vários milhões de brasileiros, que sofrem insegurança alimentar severa.

Não deveria causar surpresa, como viralizou nas redes sociais em julho, o fato de se observar uma fila formada por dezenas de pessoas na porta de trás de um açougue em Cuiabá para receber ossos e retalhos de carne.

Estudos indicam que todos os dias cerca de 19 milhões de brasileiros começam o dia sem saber se poderão fazer uma única refeição.

Com um número de desempregados beirando os 15 milhões, uma pandemia que agrava ainda mais a precária situação econômica do Brasil, a feiura social da nação reivindica algo que, aparentemente, o governo brasileiro não está disposto ou não tem competência para resolver.

Desde o início da pandemia, o arroz ficou 56% mais caro e o feijão passou dos 70%, os preços da carne então tornaram seu consumo proibitivo para largas parcelas da população.

Pesquisa realizada em dezembro de 2020 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) revelou que mais de 116 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar ou passando fome no Brasil. A pesquisa abrangeu indivíduos que não se alimentam como deveriam, com a qualidade e a quantidade necessárias.

A fome, considerada uma insegurança alimentar grave, como a situação daquelas pessoas que passam o dia sem saber que conseguirão algum alimento, afetou 9% da população brasileira.

O Norte do país, que inclui os estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondonia, Roraima e Tocantins, figurou com o maior número de pessoas afetadas pela fome, estando presente em 18,1% dos lares. O Nordeste engrossou o panorama com 13,8% e é o que apresentou maior número absoluto de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, abrangendo quase 7,5 milhões de indivíduos.

SEGUNDA LINHA

Para muitas famílias, que ainda conseguem alimentar-se, a saída está na alimentação com grãos de segunda linha, como arroz fragmentado, feijão bandinha, que vêm quebrados e com muita impureza e que tem o custo quatro vezes menor do que o feijão inteiro.

Fila para pegar ossos com retalhos de carne em Cuiabá

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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