“IMPROVISO PARA LEILA”

A minha biblioteca é habitada por muitas pessoas, de várias partes do mundo e do Brasil e de diversas cronologias. Umas viveram há mais de 2.500 anos, outras da Idade Média e Renascimento e nos séculos XVIII, XIV e XX e também nessa parte inicial do século XXI.

Às vezes nos reencontramos, apenas com alguns acenos ou, pelo contrário, para mantermos uma relação profunda, ainda que repleta de dúvidas persistentes; afinal, muitas são as teorias, algumas exigentes em demasia, além de suas leituras serem extremamente complexas, por exemplo no caso de autores alemães, como Schopenhauer, Nietzsche, Kant.

Mas o mundo bibliográfico é tão fascinante quanto abundante. A variedade de obras é infinita e o papel que cumprem essencialmente é contribuir, de alguma forma, para a libertação das pessoas que as leem. Leitura é cultura!

Bem! Dito isto, entro no assunto que me traz aqui.

Em setembro de 1987, portanto há trinta e quatro anos, recebi Improviso Para Leila [Editora Edicon] do meu amigo Luiz Taddeo, éramos colegas de trabalho em uma das maiores agências de propaganda do Brasil.

O reencontrei agora, ao divisar sua lombada em uma das prateleiras da minha biblioteca. O peguei, abri, na terceira página estava uma dedicatória: “Ao amigo, colega e irmão de ideias Rossini, com o abraço do Luiz Taddeo.” Não me lembro de tê-lo lido na ocasião, mas agora o fiz e pude desfrutar de um enorme prazer de ler crônicas bem tecidas pelo talento do autor. A apresentação é do Carlito Maia muito conhecido nos anos 80.

Taddeo me fez recordar da minha infância de maneira magistral com seus contos bem sustentados em estilo e riqueza verbal. Pude conhecer a vida dos moradores no tradicional bairro paulistano da Moóca, em cada pormenor. Lá nasceu e viveu nosso Taddeo.

De repente, me dou conta, com a ajuda de minha mulher que faz cálculo com uma facilidade incrível de que meu amigo terá 93 anos. É isso mesmo? Tento pesquisar no Google e só encontro a capa do seu livro à venda, mas nada do meu amigo. Imagino que possa já ter morrido. Poucas pessoas chegam aos 93.

A descrição que faz do jogo de Botões me fez voltar para a minha infância, em cada pormenor e com uma perfeição de imagens que me fez ver a minha própria história com minhas coleções de botões que reunia, como ele, de peças retiradas de casacos e paletós. Só muito mais tarde, ele lembra, chegaram os times de futebol de botão de plásticos produzidos para esse fim. Eles eram retirados das caixas e no centro, em uma depressão, se colavam as figuras dos times da torcida da molecada.

Enfim, são muitas histórias que li de um só fôlego em poucas horas. Na última capa se lê: “Este livro transporta o leitor para o universo das emoções mais recônditas do ser humano. Essas e outras crônicas-histórias do cotidiano de hoje e de sempre, funcionam como descobertas de nós mesmos, do mundo que nos rodeia e das coisas que dão ou tiram o sentido da vida.” Belas palavras!

Sobre o autor, se lê, na última página interna: “Luiz Taddeo, filho e neto de sapateiros, nasceu no bairro operário da Moóca, em 1928. A literatura o atraiu desde quando, ainda adolescente, devorava indiscriminadamente Júlio Verne, Eça, Dumas, pai, Haggard, Balzac, Xavier de Montempin e os nacionais Machado, Alencar, Aluízio de Azevedo e Lima Barreto.”

Taddeo, além de redator publicitário, escreveu programas de rádio, assim como uma pequena novela e episódios semanais para a TV Record. Escreveu crítica literária no extinto Correio Paulistano, na revista Cláudia, suplemento dominical do Diário de São Paulo, além de tantos trabalhos que realizava com uma paixão inquestionável. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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