CLAUDINO PILETTI – A PAIXÃO DE FILOSOFAR E EDUCAR

Em nossa última conversa, via WhatsApp, há poucos dias, ele, com uma gentileza notável, condicionou sua aceitação ao convite que lhe havia feito para participar do Clube dos Amigos de Ibiúna, que será lançado no próximo ano, aos resultados de exames médicos que faria. “Assim que souber os resultados, dou a palavra final”, mas já deixando claro que aceitaria, o que muito honraria os integrantes do Clube.

Mas, de repente, por volta das sete horas da manhã desta sexta-feira (17), recebo a atordoante notícia de sua morte súbita, em virtude de um ataque do coração fulminante. Estava em casa, na cama, às 21 horas do dia anterior, provavelmente assistindo a algum programa da RAI, rede de TV italiana como costumava fazer.

Homem culto e sábio, filósofo, professor e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, autor de vários livros didáticos de sucesso, de interesse geral e romances, era amado por seus alunos.

Claudino Piletti.

É dele que estamos falando. Fui um dos privilegiados que tiveram a oportunidade de conhecer e conviver com ele, mesmo, como foi nosso caso, por meio de comunicação remota, via WhatSapp, pois ambos estávamos em autoconfinamento por conta da pandemia da covid-19.

Mas, “longe dos olhos, perto do coração”. Sentia nele e considero suas duas grandes virtudes existenciais a sabedoria acumulada ao longo de sua passagem pela academia, incluindo sete anos no Seminário, onde a disciplina é palavra de ordem, e o compartilhamento generoso dessa mesma sabedoria.

Abro aqui um parêntese para reproduzir os termos do autógrafo do seu livro com vários autores, incluindo seu irmão Nelson, Muito além do seminário – Memórias e Vozes, com data de agosto de 2014: “Carlos Rossini – A vida se vive e se escreve”, disse Pirandello. E, também, se lê. Boa leitura!”

Já em Luz para Tolos a dedicatória foi: “A tolice é a marca da nossa grandeza, pois obriga-nos a desenvolver a inteligência.”

No divertidíssimo e imperdível O Gaúcho que sonhava ser celular da china, e não se confunda esta palavra, pois não se trata do país com a maior população do mundo, mas de um certo tempo de mulher: “Entre nós e a vida há um celular cuja bateria são nossos sonhos. Um 2015 pleno de sonhos, conexões e realizações.”

A OUTRA

O quarto dos livros de Claudino Piletti que vejo em minha frente chama-se A Outra – O calcanhar de Aquiles de todo homem. Neste, tive a honra de ser convidado para escrevinhar a apresentação que escrevi assim que terminei a leitura. Fugi da razão. Quando me dei por mim estava pronto. Li uma, duas e mais vezes para entregar o trabalho sem falhas pelo menos aparentes. Veja um trecho da apresentação:

“Um prego enferrujado e um pneu furado é uma imagem tão banal nas estradas que talvez nem mereça a menor atenção, como habitualmente acontece. Mas não quando esse simples e corriqueiro fato serve de ponto de partida para uma linda história de amor, sob o olhar sensível de um escritor-filósofo envolvido até a alma com os mistérios da existência humana.”

A TRAJETÓRIA

Claudino Piletti é, por todos os seus inegáveis méritos como mestre-educador, motivo de orgulho para todos os ibiunenses que o acolheram nesta terra que agora o recebe como um filho amado. Mas vale conhecer um pouco mais desse homem que partiu aos 79 anos, com uma admirável capacidade para criar e criar continuamente e hábil no manejo das palavras, com todos os créditos que elas merecem.

Gaúcho de Bento Gonçalves, a terra do bom vinho, graduou-se em filosofia e pedagogia pela Faculdade Imaculada Conceição de Viamão, no Rio Grande do Sul.

Na época, ao participar e vencer o “Concurso de Ensaios Filosóficos”, promovido pela Secretaria de Educação e Cultura, teve seu ensaio “A razão vital e histórica em Ortega Y Gasset” publicado pelo Instituto Estadual do Livro. Graças a este prêmio, recebeu bolsa de estudos do Instituto de Cultura Hispânica para curso de um ano em Madrid.

Lá, além da filosofia, dedicou-se aos estudos de psicologia. Após o curso, trabalhou na Alemanha e viajou por diversos países europeus.

De regresso ao Brasil, passou a residir na cidade de Campinas onde atuou como orientador pedagógico numa escola técnica e como professor na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC). Após um ano, contratado para ser orientador pedagógico do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de São Paulo – SENAC, mudou-se para a cidade de São Paulo, mantendo, no entanto, suas aulas na PUCC.

Na capital paulista fez mestrado e doutorado em Educação na Universidade de São Paulo (USP). A convite da Editora Ática, escreveu diversos livros didáticos, entre os quais destacam-se os consagrados “Filosofia da Educação”, “Didática Geral” e a coleção “História e Vida” (4 volumes), esta em coautoria com seu irmão Nelson. E, pela Editora Contexto, também em coautoria com seu irmão, publicou “História da Educação: de Confúcio a Paulo Freire”. Além dos didáticos, escreveu: “Malhas de vinho em toalhas de linho branco”, publicado com o apoio da Casa Valduga. Escreveu ainda, “Longa jornada em busca do empate”, que faz parte do livro “Muito além do seminário: memórias a cinco vozes”, publicado pela Letra&Vida.

Casado com Maria da Glória, pedagoga formada pela USP, é pai de Leonardo, Rafael e Ana Cristina e avô de Bruno e Gabriel. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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