O VELHO DO CAJADO SAGRADO PREGA O AMOR COMO NECESSIDADE URGENTE

Numa dessas noites frias, percebi que a cortina do quarto balançava soprada pelo vento. Resolvi levantar e baixar o vidro. Estou muito friorento. Está difícil pegar no sono com os pés frios!

Quando exatamente mudava a posição da borboleta para que o vidro baixasse, ouvi um chamado, quase um cicio:

— Carlos, vem pra fora, quero falar com você.

Percebi imediatamente que era o Velho do Cajado Sagrado que parecia ter vindo de uma longa viagem para uma das estrelas da Via Láctea.

— É você, velho?

— Sim, sim.

— Já vou sair, disse ansioso. Afinal fazia pelo menos dois anos que o velho não aparecia. Esse velho sábio…

Saí para o quintal e o vi flutuando no ar, sobre o gramado.

— Oi, Carlos!

— Oi, velho!

Nos abraçamos fraternalmente.

— Estava sentindo sua falta, velho.

— Eu também, mas estava muito distante da Terra.

— Voltei porque estou muito preocupado com o seu país. Nunca vi tanto sofrimento do povo, que se perde a cada dia, tanta miséria, tanta dor, tanta violência.

— Velho você está certo, eu também estou perplexo com este enorme país, rico de recursos, deixar milhões de pessoas sem emprego, passando fome, submetidas a uma política injusta, covarde e desprezível.

— Carlos quero resumir o meu principal sentimento em relação ao seu país.

— O desamor é muito grande.

— Por isso resolvi falar com você para você publicar o seguinte:

“Estamos nos desumanizando de um modo tão cruel e avassalador, que mais parecemos animais selvagens do que pessoas. Nunca foi tão decisivo expressar amor e compaixão ao próximo. Uma pandemia terrível que ainda continua fazendo vítimas, uma dolorosa injustiça social provocada por governantes celerados, a falta de comida na mesa de mais de 33 milhões de pessoas… Tudo isso provoca uma profunda alteração na vida das pessoas que perdem o senso de dignidade, de autorrespeito e até, não raro, falta de vontade de viver. Drogas, violência contra vulneráveis, mulheres e idosos e uma corrupção que não acaba… Não poderia deixar de mencionar que os brasileiros constituem hoje uma sociedade governada pela intimidação e pelo medo.”

— Velho você parece adivinhar meus pensamentos.

— Essa é a realidade nua e crua, Carlos. Por isso reitero que o Brasil somente se salvará com amor, um purificador da vida.

— As pessoas estão se comportando cada vez mais de modo artificial, como se fossem autômatos, exaustas com a faina repetitiva pela sobrevivência diária.

— Diga isso, escreva isso:

— Perdoe-se por meio de uma demonstração clara e explícita de amor ao próximo e perdoe os outros do mesmo modo. Sem amor e perdão todos ficarão cada vez mais tensos como uma corda de violão prestes a se romper.

— Sabia velho que com o seu longo tempo distante procurei reciclar meu espírito e foi a exatamente a isso que cheguei: amar ao próximo, porque o próximo também é frágil, sofre, enlouquece, sente medo e ameaçado, inseguro, isolado. Exercitar um novo pensar com amor é uma atitude nobre e certamente uma forma efetiva de superar esses tempos tão difíceis.

Aceitando a missão que o velho me passou, escrevi estas linhas para vocês que sentem um mal estar cotidiano, às vezes uma tristeza ou nostalgia como se estivessem longe da pátria do bem viver, na esperança de que nossas relações precisam ser filtradas pelos melhores e mais simples sentimentos de amor.

— Ah! Esqueci de dizer: o Velho do Cajado Sagrado nos ama e nos quer bem como as mães aos filhos. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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