SECRETOCRACIA FUNCIONA COMO FITA ISOLANTE DOS POLÍTICOS

O dicionário da política brasileira deve incluir um novo verbete para dar conta das práticas adotadas pelos governos federal, estaduais e municipais: secretocracia.

Trata-se de todas as maracutaias aéticas e manobras feitas pelos políticos em cargos públicos em segredo e ocultas da opinião pública, como é o caso da interdição da revelação de fatos por 100 anos, que vêm sendo impostas, que jamais chegarão ao conhecimento dos cidadãos que têm vida mais breve do que esse período de tempo.

No âmbito federal temos o orçamento secreto que certamente abrange bilhões de reais, cujos destinos efetivos somente poderão ser descobertos, talvez, pela inteligência artificial futura.

Nos estados da federação igualmente a opacidade das informações impedem, ou melhor, favorecem ações que geram benefícios econômicos de interesses próprios ou dos aliados mais fiéis e íntimos.

No Rio de Janeiro, do governador Cláudio Castro, descobriu-se que foram contratas 18.000 pessoas, sem publicação no Diário Oficial, num ano eleitoral. Se multiplicarmos esse número pela influência direta nos eleitores, teremos um número de votos expressivos.

Essas pessoas foram contratadas pela Fundação Coperj – Centro Estadual de Estatística, Pesquisa e Formação de Servidores Públicos e formam uma respeitável legião de eleitores.

A secretocracia, na verdade faz parte da tradição política brasileira, mas na modernidade sua extensão se ampliou e se enraizou numa tal magnitude, de forma contagiante, que faz parte do dia a dia das administrações de milhares de municípios, no mais proverbial exercício da corrupção.

As prefeituras funcionam segregadas das populações a que deveriam servir e criam toda sorte de dificuldade a fim de impedir a transparência nos atos públicos e subestimam a inteligência parcelas da população. Em vez de informar buscam “hipnotizar” os cidadãos, sobretudo os mais humildes, culturalmente falando, com o uso esperto das postagens nas redes sociais.

Não há informação, mas autopromoção contínua para transformar as imagens dos administradores públicos em heróis, pelos feitos que divulgam, sem, no entanto, revelar realidades cruéis nos setores da saúde, das estradas, da segurança pública, da educação e em outros setores, mantendo as questões delicadas e desagradáveis ocultas.

A secretocracia alimenta o dia a dia da administração pública em todo o Brasil e, desafortunadamente, se tornou a marca registrada dos políticos de má índole que procuram se agarrar e se manter no poder com uma cara de pau invernizável. Muitas vezes justificam sua “esperteza” como forma de combate à oposição, o que, em grande parte, não passa de uma balela.

A secretocracia é, ainda, a base de transformar a mentira em verdade, custe o que custar. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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