NOTÍCIA HISTÓRICA – O DIA EM QUE IBIÚNA PAROU

Quinta-feira, dia 21, ano 1933, por volta das três horas da tarde. Chovia e uma forte cerração encobria o céu de Ibiúna. Um avião de cor vermelha que saíra de Curitiba, no Paraná, com destino ao Rio de Janeiro, com dois tripulantes, ambos tenentes do Exército brasileiro: Victor Gama de Barcellos e Henrique da Costa Neves.

Por alguma razão, eles tiveram que aterrissar o aparelho e passava baixinho sobre a cidade de Ibiúna procurando um lugar apropriado. Agora veja como o diretor do jornal O UNENSE, Pedro Falci, em sua edição nº 15, descreveu esse fato com a linguagem típica da época. Isso faz 90 anos.

“Inesperadamente um possante avião cortava baixinho o espaço, por cima de nossa cidade, despertando na população natural curiosidade…curiosidade essa que logo tomou vulto quando foi notado que o aparelho procurava um local apropriado para descer.”

“Em poucos minutos o Ícaro vermelho serenamente descia na vargem do Sorocamirim (rio), num banhado. Sem demora movimentou-se o povo rumando ao referido local.”

O jornalista informou que alguns iam de automóveis, outros de caminhão e a pé, todos querendo ver o aparelho sem se preocupar com a chuva que caia.

Os dois tripulantes do avião, devido à forte cerração tinham dificuldade de avistar um local apropriado (seguro). Primeiro desceram num alagadiço, mas depois de terem reconhecido um Campo de Aviação que existia na época no bairro do Sará [Sará Sará], denominado Capo do Chicuta, voaram para lá.

Falci avisa tratar-se do 25º da Aviação Militar que “todos queriam ver de perto, o resultado do invento do glorioso Santos Dumont”.

No dia seguinte, às 9h35, diante de uma multidão, ou “à vista de cavalheiros e exmas. famílias de nossa alta sociedade os motores começaram a funcionar e soltos os cabos que o prendiam à terra, 15 minutos depois, às 9h50, feitas as despedidas, por entre as exclamações de de regozijo geral, os audazes timoneiros  no  bojo do aparelho, o qual deu o primeiro impulso pelo terreno e em seguida, calmo e sereno, galhardo e vitorioso rasgava seguro o espaço, dando uma grande volta no firmamento em fora e ao passar pelo ponto aonde minutos antes partira, passou baixinho, num gesto fidalgo de despedida e assim foi ele rumo ao seu destino”,

D. Maria Granjeiro, agente postal telegráfica de Ibiúna, então chamada Una, informou ter recebido um telegrama dando conta de que o aparelho chegara a São Paulo às 10 horas. De Una para São Paulo foram apenas 10 minutos de voo.

Agora veja a movimentação e as atitudes dos ilustres ibiunenses, alguns dos quais atualmente nomes de praças e ruas da cidade.

Felisbino Camargo, escrivão da Delegacia de Polícia, esteve no  vargedo do Sorocamirim e se colocou à disposição dos tripulantes da aeronave. Antonio José Soares, Tonico, cumulou os visitantes de gentilezas, chamados de “bravos tenentes”, que pernoitaram na cidade.

Barcellos e Neves pediram a Pedro Falci que os representasse nos agradecimentos ao povo de Una. Ao cumprir a missão O UNENSE publicou, em nome da sociedade local: “VOLTEM SEMPRE E DEMOREM MAIS TEMPO CONOSCO.”

O jornal fez destaque das seguintes personalidades, alguns acompanhados de seus familiares, que estiveram no Campo de Aviação do Sará, por ocasião da partida do aparelho com destino a São Paulo: Padre Antonio Pepe (pároco), Raymundo Lima (então prefeito de Una), Pedro Falci (diretor do jornal O UNENSE) e irmãos, dr.Machado de Abreu, delegado de polícia da cidade e seus familiares, Francisco Romano, sua mulher e seu filho, Antonio José Soares, Delminio Soares, Severino Moraes (escrivão de paz), Salvador Rolim (tabelião), Octávio Rosa (tabelião), Antonio Rolim A. Freitas, coletor estadual, Antodia de Goes (comerciante), Assad Salim, João S. Carmelo, Joana Pepe, Julieta Falci, Aydê Braga, Antonia Lima…”e muitos outros cujos nomes nos não foi fácil notar”.

Nota da Redação: reproduzimos abaixo a primeira página de O UNENSE para que os leitores vejam como era a escrita da época.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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