IBIÚNA – VELHO DO CAJADO SAGRADO DEIXOU A CIDADE E FOI PARA SAMPA

No dia 8 de junho de 2019 foi visto pela primeira vez um homem caminhando na Estrada da Cachoeira com um cajado, no município de Ibiúna.

Seu jeito era de um andarilho vestido de modo despojado, carregando um cajado de madeira com um furo na ponta por onde passava um barbante.

Para as pessoas menos atentas era simplesmente um homem andando numa estrada, como, aliás, é fato comum.

No entanto, um raio de luz o seguia como se fosse um anjo, em seu caminhar silencioso.

Foi a primeira vez que o vira e nem seria capaz de imaginar que teria longos encontros recheados de sabedoria (dele) com esse homem que, na verdade, percebi tratar-se de um velho. Por isso, passei a chamá-lo do Velho do Cajado Sagrado, que ele considerou “um modo adequado de se referir a ele”.

Com o tempo passei a amar esse velho, uma criatura fora do tempo em que vivemos em nosso dia a dia comum, com a cegueira que nos acomete pelo condicionamento social ao qual somos todos submetidos desde nossa infância mais remota.

Aqueles que têm boa memória devem se lembrar do Velho do Cajado Sagrado, um sábio transcendental que andou perambulando pelas estradas de Ibiúna e compartilhando mensagens da mais pura sabedoria e simplicidade.

Tive o privilégio de encontrá-lo algumas vezes. Na verdade ele aparecia repentinamente diante de mim surgindo do invisível, sempre precedido por uma súbita luminosidade em que tomava forma como o Aladim, mediante um esfregão da lâmpada mágica.

Sempre nos demos bem, eu sempre na posição de ouvinte aprendiz. Nessa época, eu costumava ficar ouvindo o silêncio, o que se tornou um hábito na minha vida, cujo pior inimigo é a luta diária pela nossa sobrevivência material.

No final dessas linhas vocês ficarão sabendo por que volto a escrever sobre o Velho do Cajado Sagrado, um ser que se apaixonou por Ibiúna e que conquistou meu respeito para sempre.

RELATOS

Vitrine online publicou diversos artigos inspirados nos ensinamentos do Velho do Cajado Sagrado, inicialmente, como disse acima chamado de Homem do Cajado Sagrado.

Em 29 de junho de 2019 ele aparece diante de mim e fala sobre a condição humana.

No dia 20 de julho de 2019, publicava “Homem do Cajado Sagrado testemunha exemplo admirável de uma mulher ibiunense”. Ele tinha observado uma mulher que seguia pelas estradas recolhendo diversos objetos jogados em suas margens para amenizar a situação do lixo no meio ambiente. “Ah, se tivéssemos a consciência e o respeito dessa mulher pela natureza!”

No dia 1º de setembro suas palavras se resumiram no seguinte título: “Hoje, o céu de Ibiúna estava cheio de anjos.”

Num momento de grande generosidade e compaixão com os seres humanos, o Velho do Cajado Sagrado [de vez em quando ele sumia] apareceu e ensinou “um jeito simples de viver”.

Ainda em 2019, no dia 21 de novembro, deixando entrever um sentimento de tristeza percebeu que o povo se mostrava diferente: “Já não acreditam mais nas palavras, que dizem uns aos outros.”

Bem, vitrine online publicou outras notícias sobre o Velho do Cajado Sagrado e você, leitor, se tiver interesse pode entrar na página da revista www.revistavitrineibiuna.com.br e encontrar todas elas, mensagens compartilhadas como uma forma de amor ao próximo, a todos os próximos, e isso o inclui, leitor destas linhas.

O fato que não gostaríamos de noticiar talvez nos faça refletir sobre a realidade onde vivemos, pois o Velho do Cajado Sagrado simplesmente deixou nossa cidade. Embora pudesse voar foi a pé para São Paulo, para filosofar sobre a existência humana tal como ela é, embora não raro desejamos que fosse diferente. O “velho” queria fazer a diferença, pelo menos é o que eu sentia em suas palavras amorosas em relação aos seres humanos, animais e a natureza em sua completitude. Ele, na realidade, vivia no mundo da numinosidade.

Da minha parte, ficou a saudade de não mais vê-lo caminhando com seu cajado nas estradas ibiunenses.

Outro dia estava caminhando no meio da multidão na Avenida Paulista, em São Paulo, e por questão de segundos tive a impressão de tê-lo visto no calçadão em frente ao Conjunto Nacional. Corri em sua direção, mas ele simplesmente se volatilizou no ar. Mas, pude ver que sorriu pra mim, já que sempre foi bem-humorado e feliz.

Talvez me dê, mais uma vez, o privilégio de falar comigo em Sampa. Por que, não? Em Ibiúna, chegávamos a conversar durante horas, até mesmo nas madrugadas em que muitos dormiam na mais cândida inocência. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *