ENSAIO – A POLÍTICA ENTRE O NOJO E A NECESSIDADE

Ouvi pessoalmente centenas de ibiunenses durante dez dias para conhecer, entre outros objetivos mais específicos, como se comportam em relação à política, especialmente num ano eleitoral.

Atento às palavras e gestos de cada um dos indivíduos consultados foi inevitável encontrar aqueles que sentem uma espécie de alergia moral em relação a esse tema tão importante para a sociedade, já que a política é uma realidade inescapável, para o bem ou para o mal.

A conclusão mais óbvia é que essas pessoas que simplesmente detestam política e políticos, pela forma hipócrita como esses agem, nem todos claro, é que experimentaram um contínuo processo de decepção tanto no plano nacional, quanto estadual e municipal.

Alguns disseram sentir “nojo” por política e pediram educadamente desculpas por não responderem às minhas poucas e breves indagações. Um deles chegou até mesmo a me dizer “Deus te abençoe”, quando dele me despedia, o que não deixa de ser a expressão bem-vinda de um bom sentimento.

Temos que concordar que nossos hábitos políticos são do tipo  dupla face, uma para dar a aparência sedutora de bondade e outra para ocultar projetos obscuros e vergonhosos, que não se podem enxergar dentro da mente dos seus protagonistas.

Não é à toa que, com a alma repleta de decepção com promessas vãs e esperanças frustradas, haja mesmo aqueles que não falam de política, e a evitam como o diabo a cruz.

No entanto, a política é uma necessidade desde que os homens se aproximaram uns dos outros e formaram grupos primitivos. Uma decisão sobre compartilhamento de tarefas ligadas à sobrevivência da comunidade tem natureza política.

Depois que a chamada civilização fundou a sociedade moderna e organizou modos econômicos, estruturas de poder [estado, parlamento, judiciário], normas de comportamentos sociais, definição de propriedade privada, etc., então a política passou a reinar imperativamente, gostemos ou não.

Assim, mesmo diante dessa repulsa, é preciso refletir um pouco mais, mas, sobretudo, não se afastar de um fenômeno que influencia a vida de todos, a política.

Se os candidatos que se apresentam não fazem um time para disputar um campeonato, ao menos se poderá pensar em qual deles se poderá destinar o voto, talvez no menos perneta ou menos pior.

O que não se deve, como efeito mais repulsivo, é vender o voto por dinheiro, cestas básicas, sacos de cimento, latas de tinta, pares de óculos, remédios, botijões de gás. Aí sim, se demonstra uma volta à barbárie, à lei do mais forte e poderoso e a falta de respeito aos seres humanos mais carentes.

E esse, infelizmente, é um hábito recorrente em nosso país e em nossa cidade. Isso, sim, é uma nojeira que se repete a cada nova eleição, claro sempre de modo dissimulado porque é um crime eleitoral. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *