EDITORIAL – MENCIONAR CASSAÇÃO NO ATUAL CONTEXTO SOA COMO ICONOCLASTIA

Logo depois que Coiti Muramatsu assumiu o cargo de prefeito e se verificou que seu governo não ia bem das pernas, por inércia, e principalmente falta de diálogo com a Câmara Municipal, se preconizou a sua cassação. Isto de fato não chegou a ocorrer, mas o tornou completamente refém de uma situação que se arrastou por todo seu governo medíocre. Na época, assustado, o prefeito conheceu um personagem que levou seu pedido de ajuda a um deputado federal. A partir daí veio para Ibiúna um grupo de pessoas [ficaram conhecidas como “forasteiras”] para dar um “choque de gestão”.  Deu no que deu!

Mas, agora, a situação é completamente diversa. Na terça-feira (24) pela primeira vez um vereador fez menção a um processo de cassação contra o prefeito Eduardo Anselmo, em sessão ordinária. Referia-se o parlamentar ao fato de o Executivo não estar fornecendo informações contábeis para a apreciação daquela Casa. Outros vereadores criticaram o Executivo e seu secretariado. As coisas mudaram e precisaríamos buscar as causas verdadeiras dessas mudanças.

O fato que parece inoportuno é exatamente esse fazer referência à cassação do mandato de um homem cuja honestidade e conduta moral ninguém até agora contestou. E que vem atuando num contexto de restrições operacionais. As diversas administrações municipais ibiunenses historicamente não parecem ter sido virtuosas [politicamente falando]. Uma tem legado à próxima uma pesada carga de deveres não cumpridos, dívidas não honradas e ações públicas pálidas.

Que há deficiências em seu governo é notório, mas se entende que podem e devem ser corrigidas. O fato de seu governo ter sido interrompido por três meses por decisão da Justiça Eleitoral também complicou a retomada dos trabalhos depois que voltou ao cargo no dia 6 de dezembro de 2013, retardando muito o indispensável fechamento contábil desse mesmo ano.

Ok. É preciso agir com pulso firme, tomar decisões, conseguir recursos, mostrar obras e melhorias nos serviços públicos, notadamente no sistema de saúde que é calcanhar-de-aquiles desta e das administrações anteriores. Isso tudo requer diálogo, entendimento, colaboração e uma revolução de conduta em todo o corpo do secretariado. É extremamente difícil dar rumo a uma embarcação apenas com o leme nas mãos. Toda a tripulação precisa agir com o mesmo objetivo.

É óbvio que o Legislativo é uma Casa em que a liberdade de expressão é um princípio inalienável, excetuando-se as questões de decoro, mas, neste momento difícil, a menção de interferir no mandado do atual prefeito soa como uma inoportuna iconoclastia.

E se o leitor quer saber a verdade: não se cogita verdadeiramente esse desfecho por receio de que pode acontecer o pior.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.