O MUNDO ESTÁ UM CACO E A HUMANIDADE PRECISA INVENTAR UM FUTURO PARA TER UM LUGAR ONDE VIVER

Peregrinei visualmente por setecentas e trinta páginas de um livro recém-lançado no Brasil. Foi a mais longa leitura que fiz. Durou vinte dias. Lida a última linha vi uma encruzilhada que afeta e afetará a vida de todas as pessoas do mundo, incluindo nós, ibiunenses, pois também fazemos parte do planeta Terra. Compartilho respeitosamente o dilema usando uma imagem criada pelo autor, mas dando um passo além: ou o “formigueiro humano” inventa um futuro para ele viver ou não terá futuro [e lugar] em que poderá viver. Outra pergunta cabível: quando será o fim da história?

‘Ebolamente’ falando [a doença é transmitida aos seres humanos por morcegos que servem de alimento em tribos africanas], mas também filosoficamente, psicanaliticamente, socialmente, políticamente, economicamente, existencialmente, belicosamente, mortalmente, ecologicamente, depressivamente, fanaticamente, religiosamente…o mundo está um caco.

A miséria produzida como rebarba de um sistema econômico cruel e egoísta, o absurdo desequilíbrio de poder que vem à tona nas águas de pântanos, na forma de morte de milhares de pessoas [Síria, Iraque], por doença na África [vampirizada e abandonada pelos colonizadores europeus], nas favelas que se expandem nas grandes e agora também nas pequenas cidades do mundo, nas drogas, na violência que se atomiza despojando a vida de qualquer sentido. Matar se transformou num gesto banal incentivado pela incompetência das leis caducas e pela corrupção em nome de um deus extremamente sedutor e erótico: o dinheiro.

Sem vencer o irracionalismo que caracteriza os atos humanos ao redor da Terra e inventar uma nova racionalidade, apenas e simplesmente humana, sobre os escombros que sobraram da falência secular da moral, incluindo aí a perversão de clérigos que atrás de seus paramentos escondem sombrios e incontroláveis impulsos pedofílicos, a humanidade se afundará em uma nova Babel. Mas desta vez não haverá apenas a confusão de línguas como castigo divino. Nos tornaremos seres estranhos uns para os outros e o que resultará desse fato é imprevisível. Pessoas mais sensíveis já percebem esse fenômeno em comportamentos esquisitos. Aos se isolarem, mas necessitando de um mínimo contato para sobreviver, surgem os galimatas, indivíduos que falam de modo ininteligível; às vezes nem eles próprios compreendem o que dizem; outras, somente eles é que entendem. As palavras, nesse processo rumo ao fim do futuro, se tornam vazias e sem sentido.

Dedicados dia a dia a cumprir as rotinas da sobrevivência, somos levados a enfrentar as questões práticas, sem perceber que estamos nos enganando, já que enganados somos e isso já é uma questão líquida e certa. Se pudermos nos lembrar das imagens de um símbolo entre os objetos de desejos, uma Ferrari completamente destruída em acidente de trânsito à noite em São Paulo, já poderíamos despertar um pouco sobre o sentido do mundo material que não deve ser desprezado, mas localizado no seu devido lugar.

Considerado o sétimo homem mais rico do planeta, Eike Batista, até então visto como acima do bem e do mal, invejado empresário brasileiro, agora está impedido de deixar o País. Todos os seus bens foram bloqueados pela Justiça sob acusação de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.  Há poucos anos, um acidente envolveu seu filho, que dirigia um automóvel avaliado em R$ 2 milhões [foi o que se leu na imprensa], que atropelou e matou um ciclista. Tratava-se de uma pessoa pobre.

O mundo como lugar absurdo já faz parte das considerações da filosofia há muito tempo, mas também biólogos de grande expressão chegaram ao mesmo ponto de compreensão e é exatamente por isso que parece indispensável o uso da razão e da fé, como uma forma de conviver com os outros e com a natureza que nos envolve.

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Carlos Rossini é editor de

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Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.