PARA DIZER QUE FALAMOS DAS FLORES

Independentemente do que os homens estão fazendo com o mundo, vou ao quintal e vejo que as flores do pau-brasil-amarelo este ano estão mais abundantes, surgiram até mesmo nos galhos mais baixos e isso me faz feliz, olhá-las, simplesmente. Então pedi para que o filósofo chinês Confúcio dissesse o que ele pensa sobre as flores e ele respondeu: “Me perguntas por que compro arroz e flores? Compro arroz para viver e flores para ter algo pelo que viver.”

A partir daí convidei Vinicius de Moraes e Cecília Meirelles que muito bem sabem tratar do assunto e deixo vocês leitores, certamente em boa companhia.

 

O VELHO E A FLOR

Vinícius de Moraes

Por céus e mares eu andei,
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber
O que é o amor.

Ninguém sabia me dizer,
Eu já queria até morrer
Quando um velhinho
Com uma flor assim falou:

O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta
em pétalas de amor.

PEQUENA FLOR

Cecília Meireles

 

Como pequena flor que recebeu uma chuva enorme

E se esforça por sustentar o oscilante cristal das gotas

Na seda frágil, e preservar o perfume que aí dorme

 

E vê passarem as leves borboletas livremente

E ouve cantarem os pássaros acordados sem angústia

E o sol claro do dia às claras estátuas beijando sente

 

E espera que se desprenda o excessivo, úmido orvalho

Pousado, trêmulo, e sabe que talvez o vento

A libertasse, porém a desprenderia do galho

 

E nesse temor e esperança aguarda o mistério transida

– Assim repleto de acasos e todo coberto de lágrimas

Há um coração nas lânguidas tardes que envolvem a vida

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.