PARA DIZER QUE FALAMOS DAS FLORES
Independentemente do que os homens estão fazendo com o mundo, vou ao quintal e vejo que as flores do pau-brasil-amarelo este ano estão mais abundantes, surgiram até mesmo nos galhos mais baixos e isso me faz feliz, olhá-las, simplesmente. Então pedi para que o filósofo chinês Confúcio dissesse o que ele pensa sobre as flores e ele respondeu: “Me perguntas por que compro arroz e flores? Compro arroz para viver e flores para ter algo pelo que viver.”
A partir daí convidei Vinicius de Moraes e Cecília Meirelles que muito bem sabem tratar do assunto e deixo vocês leitores, certamente em boa companhia.
O VELHO E A FLOR
Vinícius de Moraes
Por céus e mares eu andei,
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber
O que é o amor.
Ninguém sabia me dizer,
Eu já queria até morrer
Quando um velhinho
Com uma flor assim falou:
O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta
em pétalas de amor.
PEQUENA FLOR
Cecília Meireles
Como pequena flor que recebeu uma chuva enorme
E se esforça por sustentar o oscilante cristal das gotas
Na seda frágil, e preservar o perfume que aí dorme
E vê passarem as leves borboletas livremente
E ouve cantarem os pássaros acordados sem angústia
E o sol claro do dia às claras estátuas beijando sente
E espera que se desprenda o excessivo, úmido orvalho
Pousado, trêmulo, e sabe que talvez o vento
A libertasse, porém a desprenderia do galho
E nesse temor e esperança aguarda o mistério transida
– Assim repleto de acasos e todo coberto de lágrimas
Há um coração nas lânguidas tardes que envolvem a vida