“NÓIS PRECISA SE UNI E DEFENDÊ O QUE É DE NÓIS E NÓIS NÃO TEM DE VERDADE”

Oiando assim dá inté vergonha. O que será que o povo vão dizê de mim? Matuscou de veiz? Gurupou? Mai de onde surgiu essa palavra? Viu anjo? Alucinou? Num guentô amargura? Mai oceis vão entendê logo. Viu o que o disfarçado fez cum ocê? Foi querê escrevê um ditado francêis, levou bordoada de um carqué assim aparecido do nada! Num perdoou ucê. Te chamo de paiaço. Ichi! Ocê tumbém deceu o porrete, chulou com ele. Tá certo! Quem mando se metê a besta cosoutro?

O tar vereadô falô que tu escreve difícir pro povaréu entendê. Óia, seu vereadô, a gente só tava achano que podia ajuda as pessoa com escrita mió, mai rica de palavrório. É bonito de vê. Muita gente começô a pegá o dicionário, o pai dos burro, pra descobri a coisa escondida atraiz de palavra estranha. É um jeito de ensiná e aprendê seu vereadô. Né não?

Foi aí que aprendi que político tem óios de calango, ovidos de raposa e qué ensiná nada, só encantá, ganhá coração, emoção e voto, com engodo, tipo isca pra peixe. Quantu mais inocente de miá, mio preles, engana mais é mais fácir. Dão tapinha na costa e riem por traiz. Onde essa fauna aprendeu a chifrar o povo? Num tem iscola que ensina o errado moral, né mermo, meu irmão?

Amigo, é cum palavras que os político engana, promete e mente e ri fáci. Tem camada de verniz pra escondê o que pensa verdade. Eta gentinha porreta, desavergonhada! Ocêis num ta entendendo? Nem eu. Se tivé um espacinho escondido nesse milhará de palavras vou dizê a verdade procêis. Verdade verdadeira, legítima, verdade de assustá. Mai inda num encontrei jeito. Que ocêis vai pensá de mim? Ocêis também num pensa assim? Tem medo de quê? Aí tem um pobrema que é grande e pega muita gente.

Arguém se lembra da antiga estória dos ratinhos e o gato. Os ratinhos precisava ponhá um guizo no gato que daria o sinal de quando ele tava por perto pros ratinhos se protegê. Resumindo inté hoje num encontraram um corajoso para amarrar o guizo no pescoço do gato, que dorme, mas vive ronronando no sono. E a estória de gato e rato continua. Ih! Perdeu o juízo de veiz!

Agora de poco, tava no supermercado. Atraiz de meu tinha um home recramando. Os bandido assaltaram uma chácra perto da casa dele. A poliça não chegou a tempo e os ladrão fizeram à vontade. Levaram dinheiro, coisas, invadiram a cozinha, comero e bebero à vontade. As pessoa que tava numa festa, assim que o bando deixou o lugar, perderam o ânimo, arrumaram o que restô de coisas e se mandaro de vorta pra São Paulo, com a cabeça ruim da lembrança da cidade que é de nós tudo.

O homem contava a história e reclamava: “Aqui nóis não faiz nada, ninguém se uni contra tanta coisa ruim. Nóis tinha que se uni e pará a cidade, chamá a imprensa de São Paulo e botá a boca no mundo. Nóis qué paz, nóis qué segurança, nóis qué meoria, nóis qué tudo que tem direito e que nóis não tem de verdade. É só dizquediz pra cima dos nosso uvido, só milonga.”

Esta escrita tá sem gramática de porpósito, mas quarqué juízo que se possa fazer dela com a realidade será mera responsabilidade de quem a ler, pois tudo é ficção, como diz o letreiro dos firme, num tem nada que ver com a realidade. Né mermo? Ou, como diz o dito francês: “Honi soi qui mal y pense” [Envergonhe-se quem nisto vê malícia]. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.