ELES SÃO JOVENS, AMAM IBIÚNA, MAS CONSIDERAM A CIDADE “PARADA NO TEMPO E SEM ALTERNATIVAS”

Esses meninos e meninas que se reúnem diariamente à sombra das árvores, na praça do Fórum da cidade de Ibiúna, com ou sem skates e longboards do lado, têm muito a dizer, se ouvidos de perto e com respeito. E o que dizem surpreende pelo senso crítico, ético e sensibilidade social, principalmente sobre o comportamento crônico e “reprovável” dos políticos.

“Nós nascemos aqui, amamos nossa cidade, onde temos nossa raiz, mas, para nós não há alternativas, de trabalho, de lazer, de estudo; somos carentes de quase tudo. Temos que imaginar o que fazer aproveitando as oportunidades da Natureza, como a represa, alguma cachoeira ou aqui na praça, onde a gente se encontra para trocar idéia.”

Quando vão chegando se beijam, se abraçam e  incluem rápidos tapinhas e soquinhos com as costas das mãos. Se sentem iguais e irmanados na linguagem que estabelecem entre si, constituindo agrupamentos com identidade e códigos próprios. Estão inseridos num tempo exclusivo, mas sabem tudo o que acontece na cidade, que constitui motivo para comentários que fazem entre si nas mesas da praça, nos bancos ou mesmo sentados no chão, encostados nas muretas.

“A cidade é uma estância turística, mas não tem nada de atrações [tirando as naturais] que possa merecer esse nome, nem mesmo a cabine turística existente na entrada da cidade, que é vista mais fechada do que aberta para informar os visitantes da cidade.”

“A gente sente que a cidade está abandonada há muito tempo. Se você quer subir até o Alto da Figueira, onde havia um mirante, vê como o turismo é tratado por aqui. Não tem nada planejado, criado e mantido com o propósito de atrair turistas e lhes proporcionar uma boa recepção. Veja a situação da ciclovia, que podia ser um lugar marcado como cartão postal da cidade. Sem comentários.”

“Nós temos aqui um sério e antigo problema com os políticos. Sentimos falta de honestidade, de caráter, mas o povo acaba votando neles, alguns chegam a governar mais de dez anos. Não dá pra entender isso. A gente se lembra dos nossos pais falando mal dos políticos, mas elegendo as mesmas pessoas. Veja hoje a triste situação em que encontra nossa cidade.”

Todos os seis entrevistados são eleitores, alguns vão votar em 2016 pela primeira vez, e, se puderem, vão tentar descobrir quem pode ou tem capacidade de cuidar melhor da cidade: Gabriel (17) terminou o colegial e quer ser cantor profissional; Rafael (18) quer se formar em educação física; Allison (17), na 8ª série, diz não ter aprendido nada na escola e que, neste momento, prefere o skate e a pipa; Leandro (18), terminou o colegial e quer fazer a faculdade de engenharia mecânica; Matheus (19) está no segundo ano de direito na Unisa; e Bruno (19) quer se tornar um skatista profissional.

A entrevista termina, chegam mais jovens, mais cumprimentos. O repórter se despede emocionado com uma aula de sinceridade, transparência e de perceber que, apesar de tudo, ter esperança – felizmente – continua a ser um atributo natural da juventude e, pelo visto, se nada atrapalhar, esses meninos e meninas poderão surpreender quando forem maiores e agirem de modo diferente daquele que criticam. (C.R.)

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.