CARTA AO MINISTRO LEVY

     Ensinaram-me que, nosso dever cívico, não se restringe ao voto. Ele exige que participemos da administração do país dando sugestões concretas. Por ser, o senhor, o ministro mais importante do novo governo da Dilma, escolhi-o como destinatário desta carta portadora de algumas sugestões.  Minha primeira sugestão, senhor ministro, é a de que, mesmo se chamando Levy, procure evitar levyandades. Seja Levy sem ser levyano.
       Considero levyandade, por exemplo, chamar  aumento de impostos de ajuste fiscal. Não é preciso dourar a pílula… Nós, que já pagamos 36% de impostos, podemos pagar um pouco mais. Afinal, isso redundará em mais benefícios para todos nós.
Pagando mais impostos, por exemplo, teremos menos dinheiro para comprar comida e guloseimas. Isto resultará na magreza, benefício muito valorizado. E, de tão magros, levytaremos.
Com base na Bíblia, sugiro que crie o ” imposto levytico”. E, para tanto, nem é preciso muita ciência. Está tudo lá, com detalhes, no livro bíblico que, por feliz coincidência, denomina-se justamente de levytico. Nesse livro, Deus deu as seguintes orientações a Moisés quanto à cobrança de impostos dos israelitas:
“Se se tratar de um homem de 20 a 60 anos, o valor será de 50 siclos de prata.(…) Se for uma mulher, o valor será de 30 siclos. Para a idade de 5 a 20 anos, o valor será de 20 siclos de prata para o menino, e 10 siclospara a menina. De 1 mês até os 5 anos, o valor será de 5 siclos de prata para o menino, e 3 para uma menina. Aos 60 anos, e daí para cima, a estimação será de 15 siclos para um homem e 10 siclos para uma mulher. (…) Aquele que for demasiado pobre e não puder pagar o valor, apresentar-se-á ao sacerdote, que fixará o valor segundo suas posses.”
(Levytico,27,3-8)
Como nós, brasileiros, não temos siclos de prata, o senhor poderá permitir que o pagamento seja feito em reais.
E, mesmo que 50% da nossa população não tenha condições de pagar este imposto, com o que pagarão os outros 50%, dará uma boa grana. Assim não será necessário reduzir as benesses dos nossos laboriosos políticos.
Aumentar os impostos, senhor ministro, tudo bem! Mas, não fica bem afirmar que seu objetivo não é o de “fazer um saco de maldades”.  Será, então, um “saco de bondades”?  Ou, talvez, de “levyandades”?
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Claudino Piletti é professor-doutor em Pedagogia e autor de vários livros. Gaúcho de Bento Gonçalves, reside em Ibiúna há longa data com a família.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.