DESCOMPASSO ENTRE PROMESSAS E PRÁTICA POLÍTICA CONTINGENCIAM GOVERNO DILMA
Para quem está desanimado com o tédio desesperançado de sua cidade e faz planos secretos de se mudar para outra, aqui vai um piteco: vá com calma nessa hora para fazer uma escolha certa. Por quê? O País todo está numa perrengue, numa situação bem complicada. A disparidade entre o discurso de campanha e a promessa de um Brasil novo e melhor para todos os brasileiros feita pela presidenta Dilma Rousseff e a prática político-administrativa em curso, sob sua batuta, abre um abismo entre significante e significado das palavras, esvaziando-as dos seus valores intrínsecos que dão sustentação e verdade aos compromissos assumidos. Em suma, se estabelece uma crise de credibilidade diante do que se diz e se contradiz.
No panorama de fundo do ‘escândalo da Petrobrás’, envolvendo bilhões de reais, que deixa pasma a nação brasileira, a genialidade de um “dignitário” da economia, seu ministro da Fazenda, mira em alvos glaciais de natureza numérica ou monetarista, e dispara aumento de impostos, de combustíveis [duas vezes já, em curto espaço de tempo, o último deles em plena folia do Carnaval] e agora a renitente posição exposta publicamente pela presidenta de manter a correção do Imposto de Renda abaixo do índice da inflação que, em termos práticos, aumenta o rebanho de contribuintes. O dragão está faminto por dinheiro, insaciável mesmo.
Percorram as prateleiras dos supermercados, tome um ônibus [mesmo em Ibiúna], tome um táxi, encoste seu carro numa bomba de posto de combustível, adquira material escolar [aqui em nosso Estado o governador Alckmin decidiu cortar o gasto com material que era distribuído gratuitamente], vá aos prestadores de serviço, mesmo de beleza, adquira remédios ou plano de saúde [muitos são verdadeiras arapucas descarados, pois não prestam o atendimento que prometem porque não veem seres humanos, mas números, grana, lucro. A grande massa de brasileiros está sujeita às mais precárias e lamentáveis condições de atendimento no sistema de saúde público federal, nos estados e nos milhares de municípios catalogados no País. E nem citamos aqui o crônico problema de desemprego, a falta de acesso ao mercado de trabalho para a juventude e as perdas inflacionárias do real.
Isso tudo se traduz por uma imoralidade selvagem em razão de que os indivíduos em sua condição isolada se sentem como baratas kafkianas, desvalidos, desrespeitados e, sem exagero, humilhados.
Será que por fatos como esses haverá neste verão tropical, no dia 15 de março, um manifesto público em todo o Brasil, exatamente para pedir o impeachment da presidenta? Essa palavra de origem inglesa, entre outros significados, aponta “má conduta no exercício de funções públicas”, se aplica às altas funções de presidentes da República, ministros do Supremo Tribunal Federal ou a qualquer funcionário público de “alta categoria”.
Como esse acontecimento ainda está no futuro, nada se pode afirmar a respeito de sua dimensão real, das formas das manifestações, das palavras-de-ordem da hora em que, com os caras-pintadas e outras caras, haverá ocupação de ruas e praças públicas, mas pelos dados disponíveis, do histórico junho de 2013, cujo estopim inicial foi exatamente aumento [da passagem de ônibus], como a estrutura governamental está se preparando para esse momento contingencial, incerto?
Dilma perde consideráveis pontos no seu índice de aprovação popular e esse é um aspecto considerável no fluxo dos acontecimentos de natureza política. Não se tratará aqui em quem vão votar os milhões de beneficiados com Bolsa Família, pois a eleição passou, mas de uma possível demonstração em ondas de um descontentamento generalizado, sobretudo nas camadas sociais intermediárias.
Por último, mas não menos relevante, há no momento em grandes extensões do território brasileiro a maior seca desde o ano de 1500, quando Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, e uma preocupante insuficiência de disponibilidade de energia elétrica que, por sinal, também entra na contabilidade de aumento de tarifas, ou seja, mais custos adicionais para a população que não tem como fazer a mesma “magia” da Casa das Moedas.
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Carlos Rossini é editor
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