O PT TRAIU SUA MISSÃO HISTÓRICA E SE TRANSFORMOU EM UM TITANIC
Você conhece a história do PT (Partido Titanic) que virou TP (Titanic Partido)? Pelo sim ou pelo não, vou contá-la. E, optei dar-lhe o título do Titanic dos Insensatos, em homenagem a obra A Nau dos Insensatos, escrita em 1494 por Sebastian Brant (1457-1521), na qual denuncia as falhas e vícios da sociedade do seu tempo. Brant critica as mazelas tanto da nobreza quanto do vulgo, não poupando Igreja, Justiça, universidades e outras instituições. Em sua obra, ele censura os excessos, a ganância, a corrupção, a falta de escrúpulos, a perda da fé e o desinteresse pelo cultivo do intelecto por parte dos insensatos de sua época.
Em contraste com os sábios e prudentes, os insensatos desfilam pelas páginas do texto, evidenciando sua arrogância, grosseria, gula, indolência, leviandade, mentira e violência. Assim, o texto revela os costumes do século XV quando era comum, entre outros malfeitos, a falsificação do dinheiro, a adulteração do vinho, o exagero da moda a mania de caluniar, falar impropérios e lançar maldições.
Passados 520 anos da época de Brant, pareceria licíto acreditar que, hoje, tais coisas já não ocorrem. Afinal das contas, a humanidade progrediu. Mas, como observou o historiador inglês Arnold Toynbee (1889-1975), “a tecnologia é o único campo da atividade humana em que houve progresso. O avanço do Paleolítico Inferior à tecnologia mecanizada foi intenso. Não houve avanço correspondente na sociabilidade humana, embora progressos nesse campo tenham sido provocados pelas mudanças nas condições sociais, impostas à humanidade por seu progresso tecnológico.” (A Humanidade e a Mãe Terra. Uma História Narrativa do Mundo. Rio de janeiro, Zahar 1979, p.716)
Em termos tecnológicos, o progresso da nau ao Titanic, foi espetacular. A nau era uma embarcação leve, mas de casco forte, com vários mastros e velas. A caravela portuguesa, que foi utilizada nos Descobrimentos, é um exemplo de nau. Nos séculos que se seguiram aos Descobrimentos, as naus tornaram-se melhores, maiores e mais rápidas.Com o tempo, porém, foram sendo substituídas pelos barcos a vapor, que passaram a dominar o transporte de passageiros. Eram rápidos e seguros. O primeiro vapor transatlântico, que surgiu em 1838, viajou de Bristol (Inglaterra) a Nova York em 15 dias e com 240 passageiros. Nos cem anos seguintes, os barcos tornaram-se cada vez mais luxuosos, transformando-se em verdadeiros hotéis flutuantes, como o Titanic.
Assim, foram-se as naus. Mas, permaneceu a dos insensatos. Dela podemos dizer o que nos disse do Lula a sua fiel escudeira presidenta Dilma: “Não vai voltar porque ele não foi”. Não foi e não irá, pois ele se considera o primeiro e único timoneiro que o paísjá teve. E considera o PT (Partido Titanic), o barco no qual todos os brasileiros deveriam embarcar.
Só para lembrar: Com a eleição de Lula a presidente, em 2002, o seu PT foi se tornando, rapidamente, tão poderoso a ponto de ser considerado um “Partido Titanic” e, como tal, passou a singrar imponente e soberano pelos mares encapelados da nossa democracia. Um tanto deslumbrado, o seu criador estufou o peito e proclamou aos quatro ventos: “Nunca antes na história deste país houve um partido melhor do que o meu PT”. E, em alto e bom som, prometeu: “Não tem chuva, não tem geada, não tem terremoto, não tem cara feia, não tem um Congresso Nacional, não tem um Poder Judiciário; só Deus será capaz de impedir que a gente faça esse país ocupar o lugar de destaque que ele nunca deveria ter deixado de ocupar.” (Folha de S.Paulo 29/06/2003-A8) E, dando uma de valente, disse: “Não tem dificuldade que me assuste, que me acanhe (…) A história não é construída por covardes. Os covardes não aparecem nem no rodapé.” (Idem) Disse ainda: “Não existe mais a possibilidade deste país eleger governadores, prefeitos e presidentes que vão governar para os coronéis que há quinhentos anos governam e mandam neste país.” (Folha de S.Paulo, 16/10/2009) Mas, ao falar de ética, foi tão modesto que admitiu a hipótese de haver alguém igual a ele: “Neste país de 180 milhões de brasileiros, pode ter igual, mas não pensem que tem nem mulher nem homem que tem a coragem de me dar lição de ética, moral e honestidade.” (Folha de S.Paulo 22/07/2005). E, por falar em dar lição, ele não se eximiu de dar-nos lição de pensamento positivo: “Dê descarga nele (pessimismo) logo cedo e saia para a rua pensando coisas boas, porque aí elas acontecem, têm muito mais chances de acontecer.”(Idem 28/10/2005). Em outra ocasião filosofou: “Uns acordam mais tarde, outros mais cedo. Uns dormem mais tarde, outros dormem mais cedo. Nem todo mundo dorme e acorda ao mesmo tempo.” (Idem 16/05/2003). Enfim, disse a que veio: “O Brasil estava quebrado, e alguém vai ter que salvar este país.”(Idem 29/06/2003).
Essas, e muitas outras bazófias e obviedades, foram proferidas pelo dono e comandante do PT (Partido Titanic). Mas, além de dizer, ele “mandou ver”, como se diz vulgarmente. Sobretudo no comando do seu PT. Então, a exemplo do capitão do famoso transatlântico, ele, qual timoneiro intimorato, ordenou ao chefe dos maquinistas: “Taca-le pau nessas máquinas!”. Mas, se o nosso poeta Carlos Drummond de Andrade nos avisou que “no meio do caminho tinha uma pedra”, parece que ninguém avisou o capitão do Transatlântico Titanic e nem o timoneiro do Partido Titanic” de que, no meio do mar, tinha um iceberg.
E, teria adiantado avisar? Conta-se que, na ocasião em que o Titanic foi construído, era o maior navio de passageiros da época. No dia de entrar no mar, uma repórter perguntou ao construtor: “O que o senhor tem a dizer para a imprensa sobre a segurança do seu navio?” . O homem, com um tom irônico,disse:” Nem Deus poderá afundar o meu navio.” E lá se foi, a imponente e deslumbrante embarcação, navegando para o alto mar em velocidade máxima. O que aconteceu depois todos sabemos.E, em parte, graças ao filme Titanic.
O que aconteceu com o imponente PT (Partido Titanic), só não sabem os que preferem viver na ilusão de que nada aconteceu. Na realidade, porém, sob o comando da comandanta indicada pelo dono e comandante, o Partido Titanic começou a fazer água. Em pouco tempo, o PT (Partido Titanic) virou o TP (Titanic Partido). Ao prever o naufrágio iminente, grande parte dos passageiros foi acometida de TPN (Tensão Pré-Naufrágio). Foram surgindo então, os culpados pelo naufrágio: A comandanta, o mar, a elite branca, a imprensa golpista, a oposição, a seca, a chuva, enfim todos e tudo, menos o dono e ex- comandante do navio. Um petista antissemita teve, inclusive, a pachorra de dizer ao seu amigo judeu:
– Os judeus é que partiram o PT?
O amigo então retrucou:
– Eu pensava que fosse um iceberg.
– Iceberg, Resemberg, Goldberry, Spielberg – tudo a mesma coisa.
– Nada disso amigo! Esse iceberg tem um só nome: corrupção
Outro petista interveio na discussão e, peremptório, exclamou:
– A luta é que partiu o PT. Mais exatamente, a luta pelo poder.
Um terceiro petista ponderou:
-Para mim foi a incompetência da comandanta que partiu o PT.
Na realidade, entre outras causas, corrupção, luta pelo poder, e incompetência, foram as três que mais contribuíram para transformar o PT (Partido Titanic) num TP (Titanic Partido).
Como era de se esperar, após o TP (Titanic Partido), a TPN (Tensão Pré-Naufrágio) desencadeou reações nervosas e, sobretudo incontinência verbal e outras formas de incontinência mais ou menos inconfessáveis.
Se, como afirmou o filósofo austríaco Ludwig Wittegenstein (1889-1951), “os limites da minha linguagem significam os limites do meu próprio mundo”, bem limitado parece ser o mundo de um petista. Vejamos alguns exemplos.
O intimorato Lula ameaçou: “Se encherem muito meu saco, vou voltar em 2018.” (Idem 29/12/2013: B16) E, um tal de Gilberto Carvalho, inexpressivo ministro petista disparou: O governo fica sofrendo todo o tipo de acusação, de bolivarianismo, de chavismo de mais um monte de merda (sic) que os caras falam.” Em seguida, acrescentou: “É isso que esteve em disputa nas eleições. Eu morria de medo de o playboyzinho (referência ao senador Aécio Neves, do PSDB) ganhar a eleição.” (Idem 10/12/2014: A8)
Movidos por esse medo e pela TPN, os petistas, na eleição de 2014, para reeleger a comandanta Dilma recorreram a todo o tipo de baixaria. Tanto que, para o historiador marco Antonio Villa, esta foi “a eleição mais suja da história”. Em seu livro Um país partido, o historiador afirma: “Sob o seu domínio – mais que liderança –o PT desmoralizou as instituições. A compra de maioria na Câmara dos Deputados, que deu origem ao processo do mensalão, foi apenas o primeiro passo. Tivemos a transformação do STF em um puxadinho do Palácio do Planalto. O Executivo virou um grande balcão de negócios e passou a ter controle dos outros dois poderes. Tudo isso foi realizado às claras, sem nenhum pudor. E teve influência direta no resultado na eleição de 2014 (Um país partido: 2014:a eleição mais suja da história. São Paulo, LeYa, 2014:218)
Em seguida,Villa observa: “O PT não sobrevive longe das benesses do Estado.Tem de sustentar milhares de militantes profissionais. O socialismo marxista foi substituído pelo oportunismo, pela despolitização,pelo rebaixamento da política às práticas tradicionais do coronelismo. (…) Todos os setores da administração pública foram tomados e aparelhados pelo partido. (…) Imaginava-se que após a condenação dos mensaleiros o ímpeto petista de usar a coisa pública ao seu bel-prazer pudesse, ao menos, diminuir. Ledo engano. Os episódios envolvendo a Petrobrás, demonstraram justamente o contrário. Foram ações de uma estrutura tentacular que tem enorme dificuldade de conviver com a lei, a democracia, a alternância no governo e com o equilíbrio entre os poderes constitucionais” (idem).
Se o PT (Partido Titanic), mesmo tendo virado TP (Titanic Partido), ainda não afundou, é graças sobretudo às ações de uma estrutura tentacular sustentada com recursos desviados da Petrobras e outras instituições estatais. Calcula-se que, só da Petrobras, a quantia desviada daria para pagar o Bolsa Famíla por 27 anos. Por isso, mais dia menos dia, o destino do Titanic dos insensatos será o mesmo de muitos outros partidos que traíram a sua missão histórica: o fundo do mar. Prevendo tal destino, o senador Romero Jucá (PMDB) recusou o convite de ser o líder do governo no Senado, dizendo: “Não quero ir para a suíte de luxo do Titanic. Prefiro ficar no escaler de remo na mão”. Nada bobo esse Romero Jucá!
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Claudino Piletti é professor-doutor em Pedagogia e autor de vários livros. Gaúcho de Bento Gonçalves, reside em Ibiúna há longa data com a família.