DOMINGO, 16 DE AGOSTO – NUNCA, NA CRISE ATUAL, UM DIA FOI TÃO TEMIDO POR DILMA
A convocação está feita: 16 de agosto, próximo domingo, haverá manifestação nacional em protesto contra a situação crítica do país, política e econômica, e também para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff, de acordo com as organizações promotoras desse fato. Será uma manifestação gigantesca e estrondosa, refletindo o estado de ânimo insatisfatório dos brasileiros, ou algo que possa ser absorvido e aliviar a tensão presidencial?
É bom ter a lucidez de admitir que há uma crise nada retórica e sim real, com perda quantitativa considerável de aliados, rebeldias arrogantes, o terrível e sórdido e descomunal assalto à Petrobrás, no escândalo da Lava Jato, respingando diretamente em Lula, que está de saída pelo país para usar todo seu prestígio para acalmar e pedir uma conciliação patriótica a fim de salvar o Brasil. Dilma e o PT estão se queimando até mesmo no Nordeste, coisa impensável até pouco tempo atrás.
Frei Betto, amigo de Dilma e de Lula, com o qual chegou a trabalhar, um dos mais conhecidos militantes da Teologia da Libertação, autor de sessenta livros e que foi preso duas vezes durante a ditadura militar, em longa entrevista à Folha de S. Paulo no último domingo (9) disse que não temia o impeachment, mas uma atitude da presidente de renunciar ao cargo por não suportar a pressão à que está sendo submetida como uma vidraça recebendo pedras de todas as direções.
Nesse cenário se nota claramente a falta de uma luz ou de talento criativo para lançar algo – por meio do diálogo explícito e franco – que se constitua em uma esperança compartilhada pela população brasileira, o que depende, na verdade, de uma atitude de humildade do governo perante a nação. Mas aí entra outra questão, que é a possibilidade dos adversários aproveitarem para lançar setas envenenadas fatais. E, neste caso, é bom lembrar que sempre há doidos o suficiente para evocar o dedo militar e para quem já viveu essa história real nada poderia ser pior para todos os brasileiros.
É verdade que Dilma se sente acuada, basta olhar o seu rosto quando fala que sabe resistir às provocações, está se cansando com os tormentos dos políticos, muitos dos quais não estão nem aí para o país, mas estão muito para rechear seus bolsos e de seus apaniguados.
Em artigo igualmente publicado no dia 9, o escritor e jornalista Carlos Heitor Cony aponta que Dilma tem que mudar [sua postura diante do País], ou será mudada.
Ainda que tenha procurado reunir políticos e seus ministros para encontrar uma pista [acaba de se aproximar do presidente Renan Calheiros, presidente do Senado – a que custo? – a fim de enfraquecer o franco atirador e presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que, por sua vez, já age para que a manifestação popular também atinja Renan, como ele também implicado em investigações da Polícia Federal.
Será exagero chamar o day after [dia seguinte], a segunda-feira, como o primeiro dia do resto de uma crise que se agiganta a cada novo dia, enquanto o povo brasileiro enfrenta uma inflação impiedosa e sua consequência – aumento nos preços de tudo – e sofre com falta de emprego, de saúde, de segurança, e, finalmente, e não menos importante, de esperança.
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Carlos Rossini é editor de vitrine online