MANIFESTAÇÕES DE RUA PEDEM SAÍDA DE DILMA, COMBATE À CORRUPÇÃO E ATACAM LULA E O PT

boneco lula em brasiliaO protesto contra o governo realizado hoje (16) no Distrito Federal, vinte e quatro estados e em muitas cidades do interior indica, em síntese, três vontades políticas e sociais dos manifestantes: impedimento ou renúncia da presidente Dilma Rousseff, combate à corrupção [com foco na Operação Lava Jato,/Petrobrás], ataque a Lula e ao PT. O expressivo número de famílias, idosos e crianças nas ruas deve ser considerado como um recado para a imediata reflexão do governo, que conta com a maior rejeição da história nos últimos vinte e nove anos.

Ao contrário das duas manifestações anteriores – a de 15 de março, que atraiu para as ruas dois milhões de pessoas, e a de 12 de abril deste ano – desta vez Lula, que deixou seu governo com 85% de aprovação popular,  devido a denúncias sobre sua possível relação com o escândalo que vem sendo investigado pela Justiça Federal – desta vez  figurou como figura de destaque, assim como o PT. Um imenso boneco inflável que dominou o cenário da manifestação na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, Lula aparece  vestido com uniforme listrado de prisioneiro, ostentando os números 13 171 [13 da sigla petista e 171, que é o artigo do Código Penal Brasileiro para a prática de estelionato].

Pedir desculpas e diálogo

desculpasA Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por meio do seu presidente nacional, Marcus Vinicius Furtado Coelho, emitiu nota neste domingo (16)  manifestando que “a presidente Dilma Rousseff necessita pedir desculpas ao Brasil. Ela apresentou na campanha eleitoral uma realidade econômica inexistente. É chegada a hora de revelar esse engano, assumir os equívocos e conclamar a união da sociedade brasileira para a superação da crise ética, política e econômica”.  A nota afirma ainda que “o diálogo com a sociedade deve ser permanente e não apenas em momentos de crise. O Brasil é um país muito complexo e diversificado para um governo a quatro paredes. Dialogar significa não apenas fazer propaganda política, mas, efetivamente, ouvir as sugestões e decidir o melhor a partir da troca de experiências.”

av. paulistaOs comentaristas políticos disseram que as manifestações de rua de hoje devem “repercutir no governo e no Congresso Nacional”, pois há um claro sinal de descontentamento e mesmo revolta em grande parcela da população que refletem um “momento de grave fragilidade do governo Dilma”. Se ela ganhou fôlego nos últimos dias ao obter a adesão do presidente do Senado, Renan Calheiros, que adia a inserção na pauta das denúncias feitas pelo Tribunal de Contas da União, em torno das chamadas “pedaladas fiscais” [o maior risco efetivo para abertura de um processo de impeachment], isso notoriamente significa um custo para o próprio Executivo, que  teve uma meteórica queda em sua base aliada, ficando com minoria de gera grandes dificuldades de governabilidade. Recuperar a imagem pública positiva é tarefa inadiável para Dilma.

“Nem que a porca tussa” Lembra-se?

Na mesma linha de pensamento do presidente nacional da OAB, os analistas políticos consideram que Dilma fez o contrário do que prometeu à população brasileira na campanha eleitoral.  Numa expressão de forte apelo emocional, disse “Nem que a porca tussa”, a fim de garantir que os direitos dos trabalhadores seriam assegurados. No mundo real, no entanto, as primeiras medidas, patrocinadas pelo ministro da Fazenda , Joaquim Levy, visando o ajuste fiscal, reduziu o mercado de  trabalho, alterou as regras da aposentadoria e do salário desemprego.  Há poucos dias fontes do Ministério da Fazenda vazaram informação anunciando que a antecipação do  pagamento do 13º salário, que vinha sendo feita desde 2006, tinha saído da agenda de contas a pagar do Executivo Federal. Essas e outras medidas impopulares contribuíram para criar um borrão na imagem pública da presidente.

Em frente à sede do Instituto Lula em São Paulo, um pouco mais de mil e quinhentas pessoas participaram de ato contra as manifestações nacionais, em defesa do governo Dilma e de Lula, pedindo respeito ao processo democrático que legitimou a eleição da presidente. (C.R.)

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AGORA À NOITE, Dilma Rousseff reuniu-se com seus ministros da Justiça, Eduardo Cardoso, da Casa Civil, Aloízio Mercante, da Defesa, Jaques Wagner, e da Comunicação, Edinho Silva, no Palácio da Alvorada, para avaliar as manifestações do dia em todo o Brasil. Ficou decidido que não haveria nenhuma manifestação da presidente, assim como dos seus ministros, pelo menos hoje. Edinho Silva apenas comentou que os protestos “aconteceram dentro da normalidade democrática”. Para evitar os jornalistas, os ministros entraram no palácio por uma porta lateral.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.