TEATRO – CIA. UNA D’ART VAI ENCENAR PEÇA NA FLORESTA IBIUNENSE

ronaldo diasMarço, 2016. Se tudo correr conforme o previsto, nesse mês terá início uma temporada teatral inédita e ousada em Ibiúna. A Cia. Una D’Art, criada pelo ator e diretor Ronaldo Dias, em 2005, encenará uma peça teatral no meio da mata em uma vila cenográfica que será montada no bairro do Recreio, a cerca de cinco quilômetros da rodovia Bunjiro Nakao.

“A vida na floresta” é o título da peça, que evocará magicamente os espíritos protetores da floresta, a vida dos seringueiros e a história de Chico Mendes [Seringueiro, sindicalista, ativista político e ambiental brasileiro – ganhador de diversos prêmios internacionais – assassinado brutalmente na porta de sua casa em Xapuri (Acre), no dia 22 de dezembro de 1988, a mando de fazendeiros da região, ficou conhecido como Homem da Floresta].

Irrequieto e perfeccionista, Dias deixa assim a área urbana de Ibiúna, onde produziu diversas peças, entre as quais “Canaã, a terra prometida” e “Riotérramar”, e parte para uma aventura com as marcas de dificuldades, sobretudo para obter apoio oficial e um lugar adequado para acolher as manifestações de uma cultura que deveria merecer maior atenção e respeito.

Na quarta-feira (9), acompanhado da atriz Nátali Aparecida, sua aluna e fã, Dias participou do programa “O repórter da cidade”, na TV Ibiúna, apresentado pelo jornalista Carlos Rossini, e contou sua trajetória desde que, aos 14 anos, teve a oportunidade de assistir a uma peça teatral em São Paulo protagonizada pela atriz Cleide Yáconis, sentiu que ali estava uma vida que abraçaria para sempre. Isso aconteceu há exatos trinta e nove anos.

A partir daí, passou a estudar, a frequentar cursos – um dos quais somente com peças de William Shakespeare – a trabalhar com grupos profissionais em São Paulo, como os Satyros, na praça Roosevelt. Depois que se mudou para Ibiúna, onde adquiriu uma chácara, teve contato com o grupo amador Jaquetaquefique, do qual participou e recorda das boas amizades que fez. Em 2005, transformou sua “ideia fixa” de montar um grupo teatral em realidade e, assim, nascia a Cia. Una D’Art, que fez e faz história em Ibiúna, de cujas oficinas participaram centenas de jovens ibiunenses, vários dos quais se tornaram profissionais do teatro, entre eles Rita Gutt e Cíntia Fer.

“Rioterramar” ganhou prêmio na categoria trilha sonora em Conselheiro Lafaiette, em Minas Gerais, mas outros fatos estão na memoria de Dias.  Talvez, a principal delas seja a formação de novas companhias criadas pelos jovens que fizeram a Cia. Una D’Arte, como os Reatores, Sinestésicos e os Gravatas. Aliás, Diego Gravata, trabalha também, pelas habilidades teatrais aprendidas, como mestre-de-cerimônias, além de atuar como ator de sucesso em Ibiúna, assim como seus colegas ciaunadarteanos.

Ronaldo Dias, de modo cauteloso, relatou as dificuldades enfrentadas pela Cia. Una D’Art, tendo mesmo quase se dissolvido “por guerras de ego” e falta de apoio oficial, mas faz um balanço de quem traz “a resistência” como traço de personalidade e, digamos, de todos aqueles que um dia se apaixonaram pelo teatro e fizeram um juramento de amor eterno. Ele disse em uma publicação ibiunense:

“Tenho o orgulho e a felicidade de saber que nada foi em vão, profissionais maravilhosos surgiram através deste trabalho, muitas peças foram realizadas, grandes públicos conquistados! Tenham a certeza de que mesmo tendo passado por momentos muito difíceis não me arrependo de nada e faria tudo de novo.”

A entrevista completa com Ronaldo Dias pode ser vista em www.tvibiuna.com.br.

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.