NOVAS TECNOLOGIAS ACELERAM O TEMPO E CRIAM ONDAS DE CHOQUE CONTRA A ESTRUTURA FAMILIAR TRADICIONAL

FAMILIA

O ritmo da vida se acelerou mundialmente e as circunstâncias relacionadas à questão de sobrevivência se tornaram tão complexas, que a família, como núcleo da composição social, está sofrendo contínuas ondas de choque num processo de fragmentação previsto por Alvin Toffler há trinta anos, em seu livro O choque do futuro, cuja releitura faço agora numa forma de sobrevoo de suas “profecias”.

As forças que estão plastificando a família vêm de fora, sobretudo por causa dos avanços no campo da tecnologia que engole, para regurgitar em seguida, grande parcela da população mundial, especialmente a que vive nas congestionadas, poluídas e grandes cidades do planeta.

Em suma, o que demorava milênios, depois séculos ou décadas para acontecer, agora acontece em pouquíssimo tempo, com o intenso crescimento urbano e demográfico que, por sua vez, acelera toda a cadeia da produção de alimentos, como os transgênicos, e altera o próprio sistema econômico e social.

Tudo que poderia parecer como mundo permanente [pela lentidão das mudanças] se tornou insustentável e temporário, embora sob o reinado do tempo tudo está em constante transformação na dura realidade da natureza, cuja lei ‘tudo que nasce já começa a morrer”, as famílias são como atores de uma peça teatral, com começo, meio e fim.

Novas formas de famílias estão surgindo [como a adoção de filhos por parte de casais homossexuais] e formas de aglutinamentos familiares exóticos ou extremamente liberais. Toffler mencionou, em seu vaticino, o surgimento de “famílias profissionais” completas [com pai, mãe, avós, tios, etc.] para cuidar de filhos de casais que, por razões profissionais, não teria condições de fazê-lo de modo adequado. Além disso, indo um pouco mais longe, falou das possibilidades de criações genéticas, por meio das quais as mulheres poderiam escolher – num estoque de espermatozoides selecionados por características físicas e mentais – seu descendente, independentemente de quem seja o pai-doador.

Tudo se tornou passageiro, superficial e mutante com uma rapidez que não fazia parte da programação tradicional da cultura humana. A maioria absoluta das pessoas ainda não se deu conta [se é que dará] dessa nova realidade porque tende a se agarrar à ideia da [falsa] segurança de não perceber os fatos reais que se apresentam como um caleidoscópio, cujas imagens e formas se modificam continuamente, por menor que seja o movimento feito.

Então, leitor(a), se perceber que há confusão, desentendimento, brigas e desassossego em sua família, não se trata de problema de “espíritos malignos” ou falta de sorte, mas por que internamente as pessoas vivem conflitos por não entender o que acontece no mundo, com elas, com os outros, e também por se sentirem impotentes diante dos próprios pensamentos e sentimentos confusos.

Essa é uma situação que transcende a cultura média da formação de uma família nuclear [homem + mulher + filho(s)] e ocorre também porque falta uma educação prévia aos futuros casais que, aparentemente, devido à fragmentação da cultura, acabam dependendo de soluções de fora. De especialistas em saúde física e mental, de orientações de como lidar com a burocracia pública, igrejas, etc. Nota-se que falta maturidade e experiência psicológica que, infelizmente, não se geram espontaneamente nas cabeças das pessoas e precisam ser adquiridas na forma de conhecimento para a vida prática.

Saiba, no entanto, que se pudermos qualificar essa situação de um grande problema da humanidade, todos estão sujeitos a ele, em diferentes graus de dificuldade e talvez não seja demais lembrar que, no meio da turbulência em que vivemos, ainda pode restar um fio de esperança no amor, como a última fronteira para viver uma vida familiar saudável e possível. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.