ELEIÇÕES 2016 – FOTO REVELA EMBRIÃO DE UMA FRENTE OPOSICIONISTA PARA DISPUTAR O EXECUTIVO EM IBIÚNA

anatomia

Tive a fortuna de, ao longo de minha carreira estudantil, contar com professores extremamente bons, dedicados e responsáveis. Um deles, de História, no antigo ginasial, professor Josué Furtado [lembro-me, tantos anos passados, nitidamente do seu rosto e de seus óculos de fundo de garrafa]. Todos os alunos o amavam pela forma como ensinava, com vivo interesse de abrir nossas mentes para novos conhecimentos.

Vejam lá. Um dia, ele resolveu dar uma aula de interpretação de fotografias para a garotada. Lembro-me claramente do impacto que causou em mim. Nunca antes havia imaginado que uma fotografia poderia ser analisada pela história que nos conta tanto com suas figuras [as pessoas e os objetos que aparecem realmente] quanto ao fundo [as mensagens que estão implícitas e não aparecem abertamente aos olhos].

Então, nosso querido professor ia mostrando cada foto e nos ajudando a entender o papel que cada personagem representava na imagem fixada no papel. Incrível! Como ele podia saber tudo aquilo? Era, presumo, o fato de ele ter uma visão histórica da realidade, de interpretar os assuntos antigos, com seus personagens e cenários e buscar um significado para todo o cenário.

Neste momento, o mestre aparece em imaginação na mente do discípulo. Estou diante de uma foto de um encontro realizado no último domingo em um hotel na cidade de Ibiúna. Ela apresenta um grupo formado por duas fileiras, uma camada na frente outra, atrás, quase encostada na parede. O texto é pouco esclarecedor para quem não é ligado em política local.

Vamos tentar compreender os simbolismos aparentes. Trata-se de um grupo relativamente pequeno de pessoas que se reuniram [pela primeira vez] para estabelecer um embrião de um grupamento político cujo objetivo principal é vencer um candidato poderoso em contabilidade eleitoral. Ou seja: todas as pessoas que estão ali sabem do que se trata, desde a hora em que foram convidadas a comparecer. A ideia central é a seguinte: nós precisamos sentar, conversar e buscar entendimento tendo como causa comum aglutinar  poderes para entrar em uma disputa política para vencer. A ideia de fundo é: se agirmos separadamente estaremos enfraquecidos, mas se juntarmos nossas forças poderemos ficar fortes. É o que se chama de coesão política. Assim poderemos enfrentar melhor nosso adversário-alvo [Fábio Bello]. Nós queremos que ele saia a fim de assumir o poder em seu lugar, que ocupa já pela terceira vez. Trata-se, ainda, de criar uma situação polarizada bem definida estrategicamente e do ponto de vista do marketing político. Em suma, criar, renovar, modificar imagens dos protagonistas.

Mas é preciso que as pessoas concordem com essa ideia, aceitem abrir mão de suas intenções pessoais em nome de um objetivo maior de que é conquistar o poder. Todavia, nem todos poderão se candidatar a apenas a duas vagas [prefeito e vice] existentes e é aí que se exige muita diplomacia política, competência persuasiva e, sobretudo, de liderança carismática, que consiga dizer exatamente o que as pessoas presentes querem ouvir.

Se se conseguir afinar o diapasão político – depois, certamente, de uma clara forma de compromisso de compartilhamento do poder aceitável por todos e cada um – então o grupo de oposição estará constituído e poderão organizar seus objetivos e ações de campanha.

CURIOSIDADES ELOQUENTES

Observem que se encontra no ponto central da foto coincidentemente a pessoa que articulou a realização do encontro. Trata-se do médico pediatra, dr. João Mello. A foto já o mostra na posição de líder quer queiram ou não os demais personagens que já se autointitularam pré-candidatos ao Executivo. Dois exemplos são o ex-prefeito Eduardo Anselmo (PP) e o vereador Carlinhos Marques (PSD). Ambos se encontram exatamente atrás de Mello.

Curiosamente, também, a parte central da foto representa o núcleo do poder do grupo e esse fato não foi pensado, mas “organizado” pela própria autoconsciência de cada um do lugar onde devem se postar. Então a figura compõe um triângulo em cujo vértice superior se encontra Mello e nos dois inferiores, Eduardo Anselmo e Carlinhos Marques. Isso não significa, por exemplo, que o empresário Waldemar Cardoso [camisa azul], também pré-candidato, que se encontra ao lado esquerdo de Mello, tenha desistido de sua pretensão de garantir espaço próprio nesse contexto. Esse raciocínio também é válido no caso de Carlinhos Marques.

Os demais personagens que compõem a foto são todas epifenomenais, incluindo o ex-vereador e empresário Charles Guimarães, exatamente o último da extremidade esquerda da foto. É pouco provável que venha a se candidatar ao Executivo, do ponto de vista desta análise. De alguma forma contudo, em princípio, essas mesmas pessoas se incluem na possibilidade de integrar o grupo de poder no poder conquistado, nas mais diversas posições e interesses.É sabido que logo haverá a segunda reunião do grupo, talvez com mais participantes, para que se consolide a sua coesão, ou seja se construa um corpo político bem definido.

Há por trás da imagem, e, portanto, ocultos, personagens que atuam nos bastidores das ações políticas e geralmente constroem os projetos e a coordenação executiva.

Filtrando todas as aparências, há por trás uma questão pendente nesse grupo: completar a arquitetura final. O professor Eduardo Anselmo já fincou o pé em sua posição de ser pré-candidato a prefeito. Se isso acontecer, dr. João Mello, terá que ser pré-candidato a vice. Há, nesse caso, um considerável desafio, pois Mello pode considerar que chegou, finalmente, sua vez, que está melhor preparado para o momento, embora esteja se comportando de modo aparentemente tranquilo e diplomático. Não quer perder a primeira etapa do esforço de formar uma frente oposicionista e, em seguida, definir a dobradinha. Essa será, afinal, a maior questão a ser equacionada do ponto de vista objetivo.

“OUTDOOR”

Não será surpresa para este escriba se aparecer nos próximos dias um “outdoor” com quatro personagens alinhados, lado a lado, como uma espécie de síntese do processo de aglutinação em curso, nessa ordem: Eduardo Anselmo, dr. João Mello, Carlinhos Marques e Waldemar Cardoso. No próximo “outdoor”, esse número já poderia ser reduzido para dois. (Carlos Rossini)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.