IBIUNENSE FICA PRESO 16 DIAS POR SER CONFUNDIDO COM ASSALTANTE

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Dia 2 de março, l6h45. O ibiunense Elias dos Santos, 39, casado há 14 anos com Cíntia Cristina dos Santos, 29, quatro filhos menores, estava no Sítio Toyo Nakayama acertando um serviço de reforma na estufa com a proprietária.  No mesmo dia e horário, Reginaldo Vieira de Goes, pilotava uma moto Yamaha por um estreito caminho no bairro do Córrego. De repente surge em sua frente um homem, segurando uma faca na mão, com o rosto oculto por uma camiseta e braços abertos. “Perdeu, perdeu”, ouviu do assaltante e logo entregou a moto. Nesse momento ficou muito nervoso, “tudo escureceu”, disse a vitrine online.

Naldo então chamou a polícia militar e apontou Elias, seu conhecido desde a infância, como o assaltante. Os policiais chegaram à sua residência, no bairro do Cupim, às 17h30, e o prenderam. Sua filha caçula, Angelina, 4, começa a chorar ao ver seu pai ser levado de casa. Hoje (17) à tarde, ele relembrou esse episódio, em lágrimas, como a cena que mais tocou o seu coração em toda a dolente situação vivida nos últimos dezesseis dias em que não teve nenhum contato com seus familiares.

Elias ficou preso do dia 2 para 3 de março na Delegacia de Polícia de Ibiúna, do dia 3 para o dia 4 na Cadeia de São Roque. No dia 4, foi levado a Sorocaba, junto com outros quatro presos, onde se submeteu a exame de corpo de delito e dai seguiu para o Centro de Detenção Provisória de Capela do Alto, distante cerca de 80 quilômetros de Ibiúna. Lá ficou quatro dias na sala da “Inclusão” junto com quinze presos. No dia 8, finalmente, foi designado para a cela 8 do Raio 1, onde ficou junto com 22 presidiários. Ele foi solto e devolvido à família hoje (17), por volta das 14h30. Foram buscá-lo sua mulher, o irmão Cristóvão, a mãe e um tio. A irmã, Isaura, ficou em casa para fazer um bolo e salgadinhos para toda a família recebê-lo em clima de alegria, carinho e amor.

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Os efeitos psíquicos provocados por essa situação dramática em Elias, Cíntia, os quatro filhos, na mãe, nos irmãos talvez fiquem para sempre na memória de todos. Cíntia, tendo o marido preso, passou por dificuldades econômicas sérias e teria entrado em desespero se não tivesse recebido a ajuda dos parentes e dos “irmãos” da Igreja Adventista do 7º Dia, que ajudaram a pagar a conta da luz, doaram leite para as crianças e outros alimentos. Ela teve que parar de trabalhar porque às vezes não tinha com quem deixar os filhos de 13 e 9 anos e as meninas, de 6 e 4 anos. Além disso, junto com o cunhado Cristóvão, correu atrás do advogado e amargou a espera imposta pelo processo judiciário, mas não se entregou em nenhum momento na luta para ter o marido de volta à família.

As crianças, sentindo a falta do pai, carinhoso e dedicado, escreveram cartinhas para ele que não chegaram ao presídio. Nelas, pedem que o pai fique forte, declaram amor e revelam o sentimento de saudade.

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“PERDOO ELE 70 VEZES”

Em entrevista ao repórter de vitrine online, Elias que, fisicamente nem parecia ter ficado preso por dezesseis dias, disse que todo esse tempo passou orando pela família e que durante todo esse momento se sentiu “feliz”, graças à experiência de encontro com o Espírito Santo. Aliás, ele pregou a palavra de Deus nos vários lugares onde esteve para os demais presos e que isso o fez muito respeitado. Pergunto, então, se foi a fé que o salvou e ele responde, sem hesitar, “sim”.

Embora sendo vítima de um velho conhecido, disse ter perdoado Reginaldo 70 vezes e considera que ele agiu assim “usado por satanás”, mas que ele recebeu o “suporte” espiritual para se manter firme e alegre.

Na realidade, Reginaldo, entrevistado ontem (16) por vitrine online, tendo a irmã ao seu lado, aparentava um desgaste físico e mental evidente, pois desde o momento em que, logo depois de ter feito o depoimento para elaboração do boletim de ocorrência, “caiu a ficha” de que tinha cometido um erro  e levado um inocente à prisão. Em todo esse período – declarou – “passei a sofrer depressão, sem dormir, comer, trabalhar”, sofrendo uma culpa insuportável.

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Por isso mesmo, ele voltou à Delegacia de Polícia de Ibiúna para confessar que tinha cometido um erro, que Elias não era culpado do assalto que sofrera. Teve que pedir ajuda a um advogado criminalista para fazer um boletim de ocorrência contra si mesmo, confessando ter cometido o crime de “denunciação caluniosa” [acusou uma pessoa inocente]. Esse boletim foi elaborado no dia 10 de março. O pedido de liberdade provisória foi encaminhado ao Fórum de Ibiúna na segunda-feira, dia 14.

Mais tarde, esse mesmo advogado disse que era a primeira vez em uma década de atuação profissional que via um caso como esse. Na verdade, essa confissão foi peça importante para a defesa de Elias providenciar um pedido de liberdade provisória à Justiça em Ibiúna, junto com diversos depoimentos testemunhais de todos os lugares onde Elias esteve durante todo o dia 2 de março. Enfim, hoje, 17 de março de 2016, 14h30 a liberdade se consumou, a família de Elias e Cintia se reuniu de novo, depois de longos dezesseis dias de dor, esperança e fé. (Carlos Rossini)

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.