SABER A DIFERENÇA ENTRE PROFISSÃO E VOCAÇÃO É ESSENCIAL PARA OS ADOLESCENTES

vocação

Imagine que você acabou de completar o Ensino Médio. Estudou, e muito, os princípios de trigonometria, a história geral, e decorou a tabela periódica. Está muito animado para começar a trabalhar, e uma empresa multinacional enorme o chamou para uma entrevista. Assim que você chega, recebe as boas vindas e solicitam para você ir a uma sala de seleção de pessoal. Lá você é entrevistado e recebe vários formulários para preencher e identificar a área para a qual você será transferido. Após isto, receberá vários treinamentos e terá uma carreira nessa empresa na área de sua vocação, pelos próximos 40 anos.  Se estivesse nesta empresa, eu torceria para que o profissional que me entrevistou conseguisse, por algum meio místico, me direcionar para a “área certa”, ou então teria uma vida muito infeliz.

No entanto, existem dois problemas muito sérios aqui. O primeiro é identificar uma vocação, “como se” eu tivesse uma essência de engenheiro ou pintor. Alguns testes e instrumentos serviriam como uma espécie de máquina de raios-x da mente, que teriam o poder de prever meu futuro de sucesso em uma área. No entanto, esta máquina ou não foi inventada ou não funciona tão bem como gostaríamos. Um segundo problema é a própria questão da máquina de raios-x. Caso faça uma radiografia hoje do meu pulmão posso ter uma imagem limpa, já no mês seguinte posso ter uma pneumonia e ter uma radiografia completamente diferente. O mesmo se aplica a nossa mente: mudamos a todo momento, e nenhum teste é tão preciso que pode dizer como seremos daqui a uma década, talvez nem daqui a uma semana caso tenhamos vivenciado algo muito significativo.

Talvez esta sensação de uma “decisão final” não seja estranha para muitos adolescentes. Fazer uma escolha que terá efeitos por toda minha vida me parece muito difícil, tensa e estressante, ainda mais se eu tiver 17 ou 18 anos! É uma aposta muito alta na qual não temos a mínima certeza de que escolhemos o lado certo. Entra aqui a questão da orientação vocacional e da orientação profissional. Quando pensamos em vocação, pensamos em algo que nascemos para fazer, uma disposição nossa para determinada carreira. Como se, quando nascemos, estivesse escrito na pulseirinha de recém-nascido: futuro arquiteto. Não duvido que alguém possa ter vocação para algo, pelo contrário. Duvido que tenhamos apenas uma vocação em nossa vida. Temos muitos interesses distintos. Existe bastantes coisas que gostamos de fazer e dentre estas existe uma parcela bem considerável das quais somos competentes fazendo.

Mas então, o que fazer? Chega um momento na qual fomos ensinados a acreditar que devemos fazer uma escolha decisiva: o vestibular. Mas existe liberdade se apenas seguimos algo que “nascemos para fazer”? Pensar assim parece ser mais cômodo. E dá para culpar quem disse que temos vocação para a área caso não tenhamos sucesso! Penso que escolher uma carreira seja algo muito mais amplo que “saber nossa vocação”. Implica na responsabilidade de escolher uma profissão e escolher não ter, ao menos nesse momento, todas as outras.

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LUIS_GROHS 2Luis Fernando Martins Grohs

é psicólogo clínico (CRP 06/130270)

e atua na área de orientação profissional

em Sorocaba

luisgrohs@hotmail.com

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.