MONTAGNER CONTINUARÁ VIVO NA MEDIDA EM QUE SEU ROSTO FORTE E SEU EXEMPLO DE VIDA ESTIVEREM EM NOSSA MEMÓRIA

domingos

Domingos Motagner, 54, morreu afogado no rio São Francisco a poucos dias de gravar a última cena como protagonista da novela Velho Chico [TV Globo]. Na cena final seus olhos estariam olhando para as águas do rio, não as mesmas, num cenário de magnífica beleza. Sua morte, ocorrida logo após ter mergulhado junto com a atriz Camila Pitanga, com a qual contracenava o êxtase do amor, entristeceu todo o Brasil.

Deixa mulher, três filhos menores e a lembrança de uma pessoa simples, “doce”, generosa e encantadora, como expressaram muitos de seus colegas de trabalho, atores e atrizes. Sua herança, só por esses poucos dentre outros atributos de sua pessoa, já o fazem merecer o carinho, o respeito e a reverência de todos nós. Seu rosto forte, marcante e sua interpretação em estado puro de arte, ficará em nossa lembrança por muito tempo.

Fico imaginando os momentos que antecederam seu encontro com a morte, como quase ocorrera antes na própria novela, em que seu corpo, depois de ser baleado no peito ficou boiando, até ser recolhido por índios ribeirinhos que cuidaram dele com o uso de ervas e de uma espécie de medicina mística.

Depois de gravar cenas de próximos capítulos, Domingos e Camila resolveram sair para almoçar num restaurante perto de um trecho perigoso do rio, sem placas de aviso porque os moradores da localidade não entram nesse ponto de correntezas, torvelinhos, entrechoque de águas, em torno de pedras.

Camila conseguiu  salvar-se segurando em uma pedra, segundo os relatos jornalísticos, e tentou segurá-lo pelo braço até quanto ele pôde. Domingos teria se cansado, a ponto de ser levado pela correnteza. Ainda teria aparecido por duas vezes sobre a superfície das águas, sentindo pânico, até desaparecer. Seu corpo seria encontrado pelos bombeiros de Sergipe a uma profundidade de dezoito metros, próximo de onde submergira.

Por duas vezes quase morri afogado em uma lagoa e lembro-me do que senti vividamente, em uma dessas ocasiões. Meu cérebro, em superaceleração passou um filme como se toda a minha vida fosse apresentada em milionésimos de segundos. “Vi” tudo em meio ao desespero da falta de ar, até mesmo meus parentes me vendo morto e fazendo comentários desolados.

Nossa mente-cérebro, centro de nossa existência real, é uma das mais belas criações da natureza. Ambos funcionam a serviço da vida, nos protegendo, nos fazendo perceber os perigos e evitá-los. Indo mais profundamente, nossos genes podem estar por trás de tudo e querendo perpetuar sua existência fazem com que a morte não exista.

Assim, o magnífico Domingos Montagner, o homem, continuará vivo absorvido pela natureza e pela sua gênese que prossegue por meio de seus filhos, que terão em todos os momentos a lembrança de um pai que terá contribuído para que o mundo tenha mais amor, enquanto estamos vivos.

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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