ENSAIO – TRISTE SOCIEDADE QUE CRIA E MATA [INOCENTES] BODES EXPIATÓRIOS

BODE EXPIATÓRIA

Todo grupo social existe por alguma [ou algumas] forma de necessidade. Embora se mantenha ou possa se manter por longo período, carrega dentro de si pelo menos cinco tipos de personagens: o porta-voz, o bode expiatório, o sabotador, o bobo e o líder.

Isso pode ser verificado em uma sala de aula, num ambiente familiar, numa instituição pública, numa empresa e até mesmo, quem diria!, em organizações religiosas.

Uma das notícias mais tristes veiculada esta semana foi a morte de uma jovem de dezenove anos. Ela era obesa desde criança e só por isso – como somos selvagens e brutais em nossa ignorância! – desde escola era vítima de persistente bullying.

Seus coleguinhas não a queriam perto, não tomavam lanche com ela, não queriam ela em seus grupos; enfim, era rejeitada de forma inconsequente e cruel. Decidiu fazer uma cirurgia de redução do estômago a fim de emagrecer e ser aceita não apenas na escola quanto na sociedade de modo geral. Morreu esta semana, aos 19 anos, por causa de uma embolia pulmonar decorrente de efeitos colaterais da cirurgia. Sem saber, pagou injustamente o preço de ter sido um “bode expiatório” da insensatez humana.

Voltemos para o princípio deste ensaio, sob a óptica da psicologia social e tentemos, pelo menos no que for possível, identificar quem cumpre, até mesmo por falta de consciência, um daqueles papéis nos grupos sociais em que vivemos.

Porta-voz. É aquele que representa a ansiedade do grupo, por meio de palavras, atos ou de forma silenciosa. Em suma, seu papel é denunciar o que está impedindo a realização de uma determinada tarefa ou objetivo e pôr o grupo na linha.

Bode expiatório. É o depositário [ou algo] de todas as dificuldades do grupo e culpado de cada um dos seus [do grupo] fracassos; enfim, paga pelos pecados da “tribo”. Ele tem de sofrer e morrer no lugar dos outros que, assim, se livram da culpa.

Sabotador e o bobo. Esses dois papéis geram um fenômeno de conspiração e de segregação dentro do grupo. Tanto o sabotador [inimigo interno] quanto o bobo [idiota ou louco] são vistos como ameaças e, por isso, são segregados e mantidos a distância, sob vigilância ou, ainda, excluídos.

Líder. Exerce o papel de manter a estrutura e a dinâmica do grupo em função dos seus objetivos fundamentais e o destino dos grupos. Existem quatro perfis de líderes: autocrático, democrático, laissez-faire e demagogo.

Autocrático – Atua de forma rígida, conservadora, mantendo a dependência dos seus adeptos; estabelece um clima de enfermidade e de resistências a mudanças. Um ditador de regras.

Democrático – É um promotor do fluxo de livres e transparentes de ideias, de ensinar e aprender e sua intervenção só ocorre com o propósito de assinalar as dificuldades no funcionamento do grupo.

Laissez-faire [deixar fazer] – Esse tipo de líder delega ao grupo sua autodeterminação e só atua para analisar a situação e orientar ações.

Demagogo – Impostor, enganador, manipulador.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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