ENSAIO – HÁ DENTRO DE NÓS UM DESEJO DE SERMOS HERÓIS

arvore do céu 1

Uma árvore não cabe em nossa cabeça literalmente, mas sim como imagem, representação. Na realidade, vivemos em um mundo onde uma infinidade de objetos nos cercam. Nem todos podem ser diretamente tocados por nós, na verdade só alguns. Eles compõem um cenário de aparências. Nosso próprio corpo é o primeiro objeto do qual fazemos parte de modo íntimo, mas ele é diferente de nós e da nossa consciência, por uma simples razão – um é material, outro, intangível, é composto de imaginação.

Ambos são reais, mas não há garantia alguma de que nos conhecemos ou sabemos quem somos. Aliás, saber quem somos é um dos imensos desafios dos homens, em todos os tempos, tentam desvendar, aí incluídos os filósofos, como uma de suas grandes indagações.

Voltando à árvore, nós, de fato a vemos, mas não conseguimos enxergar o mistério que a concebe e isso vale para todas as coisas existentes na Natureza, incluindo os homens e os animais. Haverá, oculto por um mistério indevassável, uma causa, que alguns chamam de Deus ou uma força eternamente poderosa e mutante.

Na verdade conhecemos tão pouco de nós que necessitamos constantemente estar em relação com os outros, na presença do outro, nos dizendo que existimos naquele momento e estamos em determinado lugar. Aí está uma das razões pelas quais nos sentimos desconfortáveis quando nos sentimos sós por um período um pouco mais prolongado. Sentimos medo de nos enxergarmos porque somos estranhos para nós mesmos.

Por isso mesmo, a maior aventura humana, desde que nascemos até atingirmos a maturidade biológica, é nos libertarmos desse estado de autoignorância, que nos torna dependentes dos outros até mesmo para sentirmos como seres existentes, pensarmos e agirmos no mundo. As pessoas não percebem e até mesmo fogem dessa percepção que é amedrontadora. Poucas e afortunadas são as pessoas que se libertam e se tornam seres autônomos e responsáveis por suas vidas, compreendendo com clareza o seu destino e aventura que poderá viver em sua linha do tempo.

Ninguém gosta de ouvir que é psiquicamente imaturo, que vive de representações falsas que terá criado para si mesmo no processo de adaptação às exigências do mundo, mas quando se sabe que ser maduro é ser responsável por si mesmo, diante das circunstâncias, e ser seu próprio apoio, sem depender de nenhuma figura exterior de autoridade para lhe dar segurança como empréstimo psicológico e afetivo.

É extremamente difícil atingir esse estágio de autonomia, mas é possível e representa a maior conquista que um ser humano pode obter na vida, vivendo seus valores essenciais. É mais difícil do que atingir o pico de uma montanha, mas semelhante como processo de criar a própria vida como uma aventura, como de fato é. A conquista é, na realidade, um fenômeno subjetivo, acontece dentro de nós, como uma realização que nos torna heróis. (Carlos Rossini)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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