ENSAIO – TODOS OS POLÍTICOS MENTEM, EXCETO AQUELES QUE DIZEM A VERDADE

Todos os brasileiros já sabem – ou deveriam saber – que os políticos conquistam e se mantêm no poder por meio de mentiras. Isso mesmo! Ser mentiroso social ou por cálculos intencionais faz parte desses personagens que se reproduzem ao longo do tempo tanto nas pequenas comunidades quanto em contextos nacionais.

Historicamente, o povo sempre foi massa de manobra de elites que agem e cooperam entre si em defesa de seus interesses comuns. A elite capitalista tem recursos e tempo de sobra para articular seus mecanismos que visam “eternizar” o domínio sobre as massas.

Na Rússia, em 1914, três milhões de nobres, oficiais e homens de negócios eram soberanos sobre cento e oitenta milhões de camponeses e trabalhadores. O segredo para manutenção desse estado de coisas é assim explicado: os poderosos agem de modo organizado e cooperativo, enquanto as massas populacionais são completamente desorganizadas e incapazes de formar um movimento capaz de mudar a situação a seu favor.

Como se recorda, em 1917 houve a Revolução Russa, a queda do czar, e a implantação do comunismo. Vinte e um mil integrantes do partido bolchevique – agindo pela mesma cartilha, isto é, com objetivo e de forma organizada foram os responsáveis pela mudança do regime político de então. Depois, como a história mostra, se formou a União Soviética que se dissolveria mais tarde.

Voltemos para a nossa realidade. Observe como agem os políticos. Tirantes algumas exceções, entre o que dizem e fazem há uma distância imensa. Fazem promessas que nunca vão cumprir, anunciam realizações que igualmente vão para as calendas, e, atualmente, depois da invenção do Facebook, se tornaram “repórteres” de si mesmos postando vídeos que os transformam em one mens show, ou homens que fazem de si e de suas palavras e gestos personagens centrais de espetáculos visando seduzir e manipular a população, criando cenários mentais distantes da realidade objetiva.

Alguns, inteligentes e culturalmente bem-informados adotam procedimentos e raciocínios conhecidos como algoritmos. Eles pensam inspirados em metodologia que visa consagrar um processo ou realizar algum objetivo por etapas, como resolver uma equação matemática ou fazer um bolo, que requer um procedimento que vai da primeira à última ação [cozer a massa preparada].

Esse modo de pensar, no entanto, não consegue superar a prática política de baixa extração caracterizada, como dito acima, pelas mentiras, ações corruptas e, sobretudo, egoísmo. De modo genérico, a conquista de um poder público é utilizada como meio de enriquecimento pessoal ou de grupos que giram em torno de certas lideranças. Isso abrange os governos federal, estaduais e municipais em todo o Brasil.

Em política, palavra dada não é sinônimo de palavra cumprida, pelo contrário; é muito comum que a palavra dada na campanha eleitoral seja logo esquecida porque políticos agem assim: interpretam o poder como algo que deve alimentar seu bolso, sua vaidade e o status que goza na sociedade.

Esquecem, por estarem embriagados pelo poder e suas benesses, de que tudo pode mudar e muda de fato, de alguma forma jamais será para sempre e acabam pagando pelo que fizeram ao trair aqueles que os fez eleger, se não estiverem dançando conforme os ritmos que impõem, até mesmo quando estabelecem regras pétreas de obediência e mutismo àqueles que os cercam em primeiro grau. O tempo, no entanto, cuidará de proporcionar lições tiradas de momentos depressivos que podem ter se transformado em um tempo de vingança, no melhor estilo profetizado pelo inteligente Millôr Fernandes em uma de suas tiradas geniais: “É preciso roubar o suficiente para provar sua inocência!” (Carlos Rossini)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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