INSTALAÇÃO DE UMA UNIDADE DO CORPO DE BOMBEIROS EM IBIÚNA DEVE ENTRAR NA AGENDA DE PRIORIDADES

Em 1997 um grupo de amigos de Ibiúna, com idade em torno dos dozoito, vinte anos, foi até um dos muitos braços da represa Itupararanga para nadar e andar de jet ski. Estavam se divertindo nas águas, quando um deles resolveu atravessar um trecho a nado. Foi andando até a água subir em seu peito e, a partir daí, passou a nadar. De repente, começou a se agitar, erguer o braço e gritar por “socorro”. Em seguida, afundou e afogou-se.

Os demais ficaram assustados com a cena. Um deles tomou a iniciativa de pegar um carro na cidade ir até Sorocaba. Lá, embarcaram dois integrantes do Corpo de Bombeiros; no porta-malas acomodaram roupas e equipamentos de mergulho e outros apetrechos. Foram trazidos para o mesmo local da represa. Em suma, localizaram e retiraram o corpo da água e, mais tarde, foram levados de volta para Sorocaba.

Isso aconteceu há dezoito anos e é narrado hoje por um homem de trinta e oito anos que jamais esqueceu o triste episódio. É ele quem pede para lembrar as autoridades municipais que “passou da hora de o município de Ibiúna ter uma unidade de Corpo de Bombeiros”.

Até hoje, como aconteceu no último sábado, quando dois jovens ibiunenses perderam a vida em um acidente ocorrido na rodovia Raposo Tavares, é preciso pedir socorro para o Corpo de Bombeiros de São Roque, o mais próximo, ou de outras cidades.

Eles, obviamente, vêm o mais rápido que podem e sempre realizam um trabalho digno de todo respeito e, por isso, são muitos respeitados pela população. No entanto, precisam se deslocar quilômetros de distância até chegar aos locais onde devem atuar. E, como se sabe, o tempo, em muitos casos, pode fazer a diferença entre a vida e a morte.

NA RODOVIA

Os acidentes com óbitos têm acontecido com uma frequência intolerável na rodovia Bunjiro Nakao, já apelidada como “rodovia da morte”. É uma estrada sob responsabilidade do governo estadual. Tem início em Vargem Grande, na margem da rodovia Raposo Tavares, atravessa todo o município de Ibiúna, até chegar ao município de Piedade, numa extensão de 58,5 quilômetros.

Na verdade, Bunjiro Nakao é o nome desse trecho da SP-250, a mais antiga estrada de ligação de São Paulo com a região Sul do País. Quando foi construída, não existia a BR-116 e tampouco a rodovia Castelo Branco.

Quando foi construída, há décadas, servia para o volume de veículos que circulavam na época; mas hoje, do ponto de vista de capacidade, e também de segurança, está superada, obsoleta. Por isso mesmo, teve início o processo de sua duplicação, acalentada pela população do município e de toda a região.

Estreita, cheia de curvas, aclives e declives, se tornou uma via de muito perigosa, sobretudo considerando-se que muitos motoristas não respeitam as leis do trânsito, havendo muitos acidentes provocados por embriaguez, falta de habilitação, imprudência, veículos em mau estado de conservação, entre outros fatores humanos.

NA REPRESA

A represa Itupararanga é o maior reservatório manancial de água doce da região Sorocaba. Possui um lago com canal principal com 26 km de extensão e 1.192 km de margens e uma área total de espelho d’agua de 936 km, sendo que sua maior parte (55%) se encontra no município de Ibiúna.

Integrantes do Corpo de Bombeiros de São Roque constantemente são chamados para resgatar corpos de pessoas afogadas, sobretudo em áreas em que há acesso livre, como a prainha do Piratuba, sendo que não há nesses locais nenhum serviço preventivo ou estrutura para fazer salvamentos quando os acidentes estão ocorrendo. Nos fins de semana e feriados, sobretudo no verão, tende a haver maior frequência de casos.

Muitos deles, de acordo com bombeiros ouvidos por vitrine online, acontecem por excesso de bebidas alcoólicas, imprudência e desatenção de pais e responsáveis, quando as vítimas são crianças. Tem sido comum, como a história que iniciou esta matéria, alguém querer chegar de um lado de um braço da represa, afundar no caminho. E as histórias são sempre tristes para muitas famílias.

A presença de uma unidade de Corpo de Bombeiros em Ibiúna poderia atuar tanto na prevenção quanto no atendimento aos acidentes, com maior probabilidade de eficácia devido ao fato de estarem no próprio município e mais próximos das ocorrências.

JÁ PREVISTA

A instalação de uma unidade do Corpo de Bombeiros em Ibiúna depende de ações conjuntas da prefeitura e do governo estadual, em termos de investimentos de recursos em construção de instalações para os profissionais, destinação de veículos equipamentos especializados. Será preciso haver um convênio entre os governos municipal e estadual para instalação e manutenção da equipe e dos equipamentos. Já se observou até mesmo a dotação de recursos para essa finalidade em orçamentos apresentados à Câmara Municipal, mas nada saiu até hoje do papel. A esperança que se renova agora é uma iniciativa do novo prefeito, a fim de que esse projeto se corporifique e proporcione melhor segurança no município. (Carlos Rossini)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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