CRIE SUA LIBERDADE – NATAL E ANO-NOVO SÃO TEMPOS PARA REINVENTAR A VIDA

O Natal (nascimento) e a passagem para o Ano-Novo (um novo tempo) são episódicos, isto é, tão passageiros quanto os dias da semana em que, como atores nas novelas e no teatro, desempenhamos nossos variados papéis, alguns mais outros menos conscientes do que estamos fazendo.

Embora este ano, devido à falta de dinheiro no bolso da população que, por si só, limita o poder de compra, o impulso frenético por compras e consumo, que integra as festas de fim de ano e mesmo distorce ou põe à prova nossa liberdade de escolha, tendemos a repetir hábitos que poderiam ser revistos e modificados.

Por todo canto, se verificam fenômenos comportamentais contraditórios e muitas vezes doloridos em que se entrechocam o desejo de adquirir, consumir e sentir prazer, ainda que, repetimos, episódicos, e a falta ou restrição imposta pela impotência econômica.

Enganam-se as pessoas que imaginam mesas fartas e abundantes de milionários como sinal de felicidade e como melhor do que a modesta alimentação que põem sobre as mesas os mais simples e humildes.

Da mesma forma pode-se incluir, num contexto de ilusão teatral,  a busca da embriaguez, com bebidas e outras drogas modificadoras de nossa química cerebral, como se isso nos pudesse transportar para um mundo de sonhos e fantasias sem dores e sofrimentos, um paraíso temporário.

Não é de hoje que os homens se valem de meios similares para escapar da angustiante prisão de estar dentro de um corpo e se sentirem oprimidos por uma existência complexa, estranha e muitas vezes absurda! Se antes havia apenas meios naturais – as ervas e outras substâncias extraídas das plantas – hoje há lamentavelmente produtos sintéticos devastadores.

O teatro em que vivemos nos reivindica que sejamos ou busquemos a liberdade com a nossa própria força criativa, adquirindo conhecimentos continuamente, estabelecendo relacionamentos estimulantes e saudáveis e enfrentando os desafios [esta palavra significa testar nossa fé] com aquilo que temos de valor e o que somos.

Entendemos, olhando o planeta humano, que há uma variedade tão grande de maneiras de viver, diversidade cultural, formas de resolver problemas e de evoluir, que é possível perceber que, embora haja tantas possibilidades de extinção da Terra, e de todos nós, muitas descobertas e percepções geniais ainda estão por ser feitas.

A reinvenção de nós mesmos a cada dia é uma possibilidade de geração de pequenos prazeres e bem-estares que deve ser lembrada constantemente como um compromisso que devemos assumir com nossa consciência e somente assim poderemos falar em esperança de dias melhores.

É obvio [embora gerem conforto] que não são os bens materiais – carrões, mansões, iates, etc. – que definem o prazer de viver, mas a própria maneira de viver com liberdade, consciência de cada momento e, sobretudo, relacionamentos de amizades e amores felizes, já que, como se propala, nenhum homem é uma ilha e tampouco se desenvolve isoladamente.

Ao parar num posto de combustível nesta sexta-feira [o preço do litro da gasolina está tendo uma variação que é a cara do Brasil oficial, um grande desrespeito pela vida humana] vi uma pilha de latas de cervejas se parecendo com uma montanha. Estava ali, exatamente onde as pessoas abastecem seus veículos e pegam a estrada, apesar da campanha esquecida “Se beber, não dirija”. É assim o teatro de nossa existência: absurdo e contraditório! E o pior é que estamos acostumados demais com isso!

A palavra episódio nos vem do teatro grego e diz respeito àquele momento em que os atores entram em cena [eis = dentro; eisodos = dentro] e expõem suas falas, interagindo com outro personagem, depois do que deixa a cena para que outras coisas aconteçam, até que a peça se conclui e cumpre seu papel de sacudir as pessoas de seus sonos particulares. Feliz Natal e um Ano-Novo próspero para todos! (Carlos Rossini)

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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