INEBRIADO PELO PODER, LULA FOI ATRAÍDO PELO CANTO DAS SEREIAS
Agora que está preso e diante de um futuro que não se pode ver antecipadamente, é preciso dizer que o poder político e econômico inebriaram Lula de uma tal forma que ele foi atraído pelo canto das sereias e se deixou levar – talvez despreparado psicológica e culturalmente – para o fundo do mar trevoso da cupidez desmedida.
A paixão pelo poder de mobilizar grandes massas com incisivos discursos populistas, incensado talvez pelo carisma de que é portador, terá levado o ex-presidente petista até mesmo ao delírio que acometem aqueles que se sentem – mesmo inconscientemente – acima do bem e do mal, supremos em relação aos mortais humanos comuns.
Um experiente jornalista que atua em Brasília argumenta que Lula abusou da sorte e que deveria ter “se aposentado” quando se encontrava no auge e com um índice de aprovação popular nas alturas. Talvez seja um pouco mais do que isso: terá se esquecido que os homens são deuses inferiores, imperfeitos, sujeitos às impiedosas leis da dialética.
Se tivesse lido com atenção os fatos históricos milenares poderia perceber que imensos impérios cumpriram um ciclo de nascimento, crescimento, ascensão e decadência, como aconteceu o os impérios Romano, Persa, Babilônico e tantos outros.
Nada, nesses termos, impede que esse ciclo aconteça também com os indivíduos, por mais poderosos que consigam ser, até mesmo por força das circunstâncias. Loquaz, impetuoso, irreverente, iconoclasta [observem sua postura afrontadora diante do Poder Judiciário, irônico e sarcástico], apostou todas as fichas numa crença absoluta de que tivesse poderes sobrenaturais.
Sua liderança popular é incontestável, tanto que foi eleito duas vezes presidente da República e conseguiu eleger sua sucessora, mas, até mesmo pelas razões explícitas de sua prisão – corrupção passiva e lavagem de dinheiro [recorde-se: Mensalão, Petrolão, Lava Jato] – construiu uma forte repulsa contra si por largas parcelas da população brasileira inconformadas com a corrupção escancarada que lesou o País em bilhões de reais. Quando chegou à Polícia Federal para cumprir a pena de 12 anos e 1 mês pôde ouvir os fogos de artifícios comemorando sua prisão. Havia também, claro, seus militantes manifestando-se em protesto.
Petistas aglomerados em torno da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, sobretudo quando Lula discursou, foram às lágrimas, sentindo-se atingidos pelo que vêm chamando de “golpe” injusto contra seu líder. Mas o que se viu nas redes sociais, sua figura foi achincalhada por uma profusão de atrevidas mensagens, caricaturas, desenhos, acusações, e júbilo por sua prisão.
Pelo que se observou nas manifestações os brasileiros querem ver outros também na cadeia, pedem que a “fila ande” e alcance de figuras citadas como Aécio Neves, Renan Calheiros, Fernando Collor, Romero Jucá e muitos outros. Os brasileiros querem um basta, tanto quanto possível, contra aquilo que no ranking mundial relaciona o Brasil como um dos dez países mais corruptos do planeta.
Na verdade, a quantidade o mal feito à Nação brasileira pelo desvio de bilhões de reais que poderiam melhorar a saúde, a educação, a segurança pública, e mesmo acabar com a miséria de milhões no país afora, com geração de emprego, abrindo oportunidades para as novas gerações. É cruel, mas é preciso perguntar: quantos morreram por conta da miséria que passou a assolar o Brasil de Norte a Sul, de Leste a Oeste, sobretudo no campo as saúde pública?
Se a prisão de Lula e dos demais que se aguarda servir para pôr um pouco de vergonha na cara dos poderosos [políticos e empresários] e reduzir, ao menos, a escalada da corrupção, já teremos um motivo efetivo para comemorar. (Carlos Rossini)