IBIÚNA – SUICÍDIOS QUASE NÃO SE DIVULGAM, MAS PREOCUPAM

“Nenhum homem é uma ilha; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. Esse breve e memorável sentimento foi escrito pelo grande poeta inglês John Donne (1572-1631).

Na última terça-feira (10), um idoso e um jovem se suicidaram em Ibiúna. Os casos ocorreram em bairros diferentes e não têm relação entre si. No dia 18 de maio de 2015, uma mulher de 36 anos e no dia 21 um homem de 42 morreu no Hospital Municipal.  Ele havia sido internado ali no dia 18. Ambos se mataram e eram também de localidades diferentes.

No dia 8 de setembro de 2014, pela primeira vez um veículo de comunicação – vitrine online – publicava uma notícia baseada em dados fornecidos pela Delegacia de Polícia de Ibiúna com a triste informação de que 210 pessoas, a maioria jovens, tentaram suicidar-se no município de janeiro de 2010 a julho de 2014, das quais 22 [10%] consumaram o ato.

Comparando somente os casos de tentativas ocorridos em 2010 [30] com os 51, em 2013, houve um crescimento de 58% nas tentativas de autocídio. A população de Ibiúna, na ocasião, segundo o último levantamento do IBGE, era de 75.241 habitantes.

Responsável por apurar cada um dos casos dos sobreviventes, experiente policial disse que a maior parte decorre de conflitos no ambiente familiar. Sua conclusão: “Parece que a família está acabando, por falta de amor e união entre as pessoas; as pessoas estão fragilizadas.”

Pelos dados colhidos em entrevistas, para o policial [assim como o comandante da GCM da cidade], “os motivos objetivos decorrem geralmente de conflitos entre filhos e pais, entre maridos e mulheres, entre irmãos, namorados entre si e seus familiares.

CAUSAS

Os transtornos mentais que podem levar os indivíduos a uma autodestruição incluem a depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, alcoolismo, abuso de drogas, dificuldades financeiras e emocionais. Trata-se de um processo de ruptura de vínculos e relacionamentos, um distanciamento do grupo de relações, que é percebido como hostil, sobretudo para pessoas mais sensíveis.

A Organização Mundial da Saúde – OMS considera que o suicídio se transformou em um importante problema de saúde. É a segunda causa de morte no mundo entre adolescentes entre quinze e dezenove anos, mas alcança também taxas elevadas entre adultos com menos de 35 anos.

Há no mundo vinte milhões de tentativas de suicídio por ano. Um milhão de pessoas se suicidam por ano. Há três vezes mais suicídios entre os homens do que mulheres, independentemente da idade e de países. Há três vezes mais tentativas entre mulheres do que homens. Para cada caso consumado, há vinte tentativas.

PEDIDOS DE AJUDA

Trata-se na realidade de dramas vividos intensamente pelas pessoas, muitos jovens – repetimos – para as quais a vida parece se tornar agudamente insuportável. Há quem considere as tentativas de suicídio como pedidos de ajuda [chamar a atenção para seu problema aparentemente sem solução].

As pessoas mais idosas, quando decidem dar cabo à vida tendem ir até o fim, usando meios radicais e sem terem testemunhas por perto.” Realizam o ato em solidão. De acordo com a OMS, “os homens usam meios mais radicais que as mulheres para morrer”, por isso são maioria na consumação do ato em todo o mundo.

Já aqueles que – felizmente ficam só na tentativa, ainda que paguem um preço com desconfortos físicos e/ou dores intensas – parecem ter sempre alguém por perto, supostamente para serem socorridos antes que haja um passo sem volta.

De uma forma ou de outra, como fato social, tanto a tentativa quanto a consumação do suicídio, requerem uma reflexão sobre a doença como produto da sociedade doente e dos fatores sociais que agem tensionando grupos e indivíduos isolados. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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