O PRIMEIRO BEIJO A GENTE NUNCA ESQUECE

O salão estava lindamente decorado. Flores sobre as mesas, iluminação agradável. Os variados perfumes se misturavam à medida em que os casais se movimentavam sobre um assoalho brilhante e liso de parafina.

Eles eram jovens e um magnetismo incrível os aproximou. Existia mulher mais bonita que ela, cujo rosto com dois pontos brilhantes de seus olhos verdes parecia de um ser celestial? Para o meu olhar apaixonado a resposta: não!

Na realidade, depois de um cuba libre caprichado, as pessoas que lotavam as mesas e se mostravam alegres e sorridentes já faziam parte apenas do fundo. A figura principal se encontrava diante de mim, dançando comigo, rosto colado, sem pressão, carinhoso, doce, suave.

Quando a mulher ama o seu parceiro é capaz de deixar o par inebriado e despertar uma paixão que é a forma mais intensa de amor, às vezes louca. Num intervalo musical, fomos ao bar, compartilhar um cuba libre sob medida para nos libertar ainda mais e, definitivamente, selar um sentimento com atração recíproca.

Os enamorados constroem uma linguagem, pelo olhar, pelos gestos, pela maneira de segurar a mão um do outro, pelas palavras que gravitam a uma curta distância apropriada para os ouvidos da intimidade.

De volta ao salão, o clássico La Mer, à Ray Conniff, arrebatava os casais das mesas e os trazia para a pista de dança, e os embalava num ritmo harmoniosamente sereno inspirando um sentimento de leveza para os corações cujo ritmo se acelerava inexoravelmente.

O primeiro beijo aconteceu nesse clima melodioso, como se uma luz dourada tivesse tornado nossos dois corpos em um único. Inesquecível, terno, íntegro, intenso, doce como anis. O amor aí se fez presente na sua expressão máxima de afeto e ternura.

Duas vidas, um homem e uma mulher, ambos jovens e bonitos pareciam estar num conto de fadas, com suas crianças interiores brincando, sorrindo, dando cambalhotas de alegria no ambiente da imaginação. Duas almas à procura uma pela outra, enfim, se encontravam inesperadamente no salão de um clube.

Meu maior desejo, naquele momento, era sair dali com ela e ganharmos o mundo, pois as verdadeiras histórias de amor, ao que parece, nascem de sonhos coniventes, carícias compartilhadas, combinados quimicamente para que ambos desfrutem do intenso prazer a cada instante e seguir dançando vida afora. (C.R.)

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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