IBIÚNA – HOSPITAL MUNICIPAL VIVE MADRUGADA DE PÂNICO E TERROR

“Nunca imaginei que um fato tão grave pudesse ocorrer no Hospital Municipal”, disse o prefeito João Mello, em breve entrevista a vitrine online concedida na manhã de hoje (9) na praça da Matriz, onde acompanhava evento “Prevenção em Ação”, com prestação de diversos serviços médicos à população.

Nesse momento, a cerca de um quilômetro da li, exatamente na Delegacia de Polícia de Ibiúna, dezessete enfermeiros e auxiliares de enfermagem assinavam um boletim de ocorrência de vinte e quatro páginas, relativo ao fato mencionado pelo chefe do Executivo.

Por volta das 5 horas deste sábado, de repente, surge na recepção do Pronto Socorro Adultos do Hospital Municipal de Ibiúna, um GCM [sem fardamento e fora de serviço] trazendo uma mulher de 23 anos aparentemente desacordada [leia abaixo no intertítulo GCM].

Segundo entrevistas e depoimentos tomados na delegacia, a porta de entrada para o corredor do PSA foi aberta e a mulher levada ao médico plantonista. Quase simultaneamente, entraram três indivíduos, aparentemente “alterados”, de acordo com relatos registrados no boletim de ocorrência.

O recepcionista teria dito a eles que somente poderia entrar um acompanhante [norma protocolar do hospital] e pediu que lhe dessem um documento da jovem para ser feita uma ficha obrigatória em todos os atendimentos. Os três indivíduos teriam não apenas ignorado o pedido do funcionário como passaram a ofendê-lo com palavras de baixo calão e de modo agressivo.

GRITARIA, XINGAMENTOS

A partir desse momento se desencadeou um episódio aterrador de gritos e palavras chulas contra os servidores do hospital, incluindo ameaça de agressão física e, a certa altura [como consta de todos os testemunhos registrado no BO], um dos homens, descrito como alto e moreno teria feito a menção de puxar uma arma contra um enfermeiro.

“Todos os que estavam ali – atraídos pela gritaria e xingamentos – ficaram em pânico e com medo de um possível disparo de arma”, depôs uma auxiliar de enfermagem. Nesse episódio, uma enfermeira se colocou na frente do enfermeiro que estava sendo alvo da ameaça e o empurrou de lado e, em seguida, o levou para dentro da recepção. Essa cena estava ocorrendo já do lado de fora da recepção.

Os ouros dois indivíduos foi descrito, um como branco, alto (usava um boné bege) e cavanhaque; outro, baixo, moreno e gordo.

[Os policiais militares que atenderam a ocorrência identificaram dois deles e seus nomes constam do boletim de ocorrência, um terceiro já não estava mais no local do incidente e seria exatamente aquele que estaria armado, ainda segundo os depoimentos]

MÉDICO PRESSIONADO

Quando o médico de plantão, que trabalha no hospital há anos, solicitou a dois dos indivíduos que realizassem o preenchimento da ficha [sem a qual o médico não pode fazer as prescrições] se iniciou uma discussão, tendo a recusa do seu pedido. Em determinado momento, o médico foi desacatado e pressionado a atender rapidamente a jovem, dizendo que “a menina está morrendo”. Nesse momento, os homens foram retirados do interior do PS.

O indivíduo alto, moreno, usava uma toca que, ao cair no chão, fez ver que era careca. Foi dado um tapa no monitor que se encontra sobre o balcão para preenchimento das fichas. Nesse momento, o funcionário declarou que chamaria a polícia. Em resposta, ouviu o indivíduo se apresentar como policial, jogando uma carteira em cima do balcão para, em seguida, recolhê-la.

Um dos identificados é natural de São Roque, tem 30 anos, não se informou seu local de residência. O outro, 42 anos, é natural de Viçosa (Alagoas), solteiro, vigilante de profissão e morador em Ibiúna. O terceiro personagem foi anotado como desconhecido.

Um enfermeiro declarou que o homem alto de cavanhaque começou a xingá-lo brutalmente e dizendo que o médico não queria atender a jovem. O enfermeiro então constatou que ela já teria sido atendida pelo médico e que estava aos cuidados da enfermagem. Explicou essa situação ao mesmo homem e ouviu novas ofensas verbais agressivas, declarou à polícia.

Houve até mesmo paciente internado, necessitando de cuidados especiais, que saiu no corredor para pedir que acabassem com a barulheira que lhe estava fazendo muito mal.

PÂNICO, TERROR, AMEAÇAS

Vitrine online ouviu a maioria das vítimas. Ninguém da outra parte compareceu à delegacia. O clima era de insegurança, medo, exaustão [tinham entrado no plantão às 18 horas da sexta-feira e somente foram liberado às 12h55 minutos pelas autoridades policiais depois de assinarem seus depoimentos.

Enfermeiras, entre lágrimas, revelaram sentir medo de represálias dos indivíduos que transformaram a madrugada hospitalar num ambiente de terror. “Ficamos abalados”, disse uma experiente auxiliar de enfermagem que narrou os fatos com voz embargada. “Tenho quatro filhos e como será minha vida daqui por diante, se esses indivíduos resolverem nos fazer mal?”

SEGURANÇA PARA TRABALHAR

O tempo do terror terá durado trinta a quarenta minutos e foi considerado uma eternidade, entre ameaças de agressão, xingamentos, provocação para briga. Todos, sem exceção, querem garantias de segurança para realizar seu trabalho. “Nós existimos para cuidar da população e fazemos nosso melhor, já conseguimos melhorar o atendimento dentro dos recursos de que dispomos, dedicamos nossa vida a salvar vidas. E o que recebemos são agressões de indivíduos da população.”

PROVIDÊNCIAS

Ouvido por vitrine online, o prefeito João Mello determinou imediatamente que haverá um Guarda Civil Municipal atuando vinte e quatro horas no Hospital. Na verdade essa prontidão começou a funcionar hoje mesmo.

Em seguida, tomará providências para contratar uma empresa especializada nesse tipo de segurança, já que o contingente da GCM é reduzido considerando a imensa extensão territorial do município Ibiúna [é o 34º em extensão territorial do Estado de São Paulo, com 1.058 km2 – bem maior que a capital paulista].

“Esse fato foi absolutamente lamentável. Jamais imaginaria que alguém pudesse perpetrar um ato tão grave. O povo ibiunense é pacífico, carinhoso, acolhedor. Hospital é um lugar que precisa de tranquilidade e as normas de entrada e saída do seu interior tem vários objetivos, como proteger e cuidar dos pacientes, evitar contaminação de pessoas saudáveis. Por isso, há um controlador de acesso que, aliás, existe em todos os hospitais.

“As pessoas que fizeram uma coisa dessa não deveriam estar em seus melhores juízos”, comentou o prefeito.

GCM

Em nenhum momento a citação de um GCM nesse episódio significa que ele tenha protagonizado fatos deletérios. Até onde se pode avaliar, no momento, ele poderia estar [mesmo fora de serviço] acudindo uma mulher precisando de socorro.

Vitrine online anotou, no entanto, que o Comando da GCM irá apurar a verdade dos fatos, já a partir desta segunda-feira, e tomar as providências cabíveis. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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