PRÉ-CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA REPETEM MISTIFICAÇÕES

As risíveis posturas públicas dos pré-candidatos à Presidência da República, atores cínicos, hábeis mentirosos para iludir a populaça, apontam para uma realidade em que, mais uma vez, o Brasil estará em mãos de enganadores do povo.

Os jogos de cena diante das câmeras e microfones são bravatas, parlapatices, para demonstrar poderes pessoais e promessas que não serão cumpridas. Mais uma vez.

Mas os efeitos dessas loucuras certamente teremos que pagar, já não basta a trágica situação de miserabilidade geral da nação brasileira.

Um pré-candidato catolicão que se ajoelha no palco para receber a imposição de mãos, para ser ungido, de um bispo famigerado por suas posturas claramente cobiçosas por grana, que tem vida privada de nababo, enquanto seus fiéis amargam a ilusão e o sacrifício em sua rotina diária.

Outro que “ensina” uma menina de colo a “atirar com um ‘revólver'” e que vive exibindo e glorificando armas reais e enaltecendo um fabricante, numa absurda promoção da morte em um país homicida que leva para as covas mais de quarenta mil pessoas por ano, a maioria jovens, negros e pobres.

E o absurdo, ou seja, a falta de bom senso, de equilíbrio mental e nem o mínimo de razoabilidade, prossegue e contamina aqueles que por não terem a mínima autonomia psicológica se deixam levar nas correntes de um rio de lama, como se o rio Doce estivesse transbordado por todo o território brasileiro.

Uma dessas criaturas sujeitas a qualquer tipo de influência de uma figura representativa de autoridade salvadora, uma mistificação, desenha na própria pele, uma tatuagem, o rosto de um desses pré-candidatos, talvez o mais expressivo das inseguranças de uma larga parcela da sociedade.

Na segunda-feira (30) foi exibido o “Roda Viva”, pela TV Cultura. Não vi, felizmente, mas pude verificar seus reflexos nas redes sociais. De um lado, os apóstolos do pré-candidato, transformado em protagonista do programa, louvando as “virtudes” de seu ídolo político; de outro, as críticas ferozes dos seus antagonistas.

Terá sobrado para os jornalistas convidados para integrar a bancada de perguntadores. Teriam demonstrado um despreparo para a função, ao fazer indagações inadequadas e inoportunas. Apenas registro esse julgamento, não menos entristecedor, considerando que a TV Cultura deveria dar exemplo para o Brasil exatamente por ter o compromisso primordial de contribuir para a evolução cultural do povo, que inclui boas práticas sociais.

Mas não seria exagero imaginar que talvez as circunstâncias [a situação desregrada em que vive o país, imerso num mar de absurdos] como verdadeiras protagonistas dessa história que recende os nossos péssimos hábitos políticos em que impera, pelos escândalos a que estamos já acostumados, a falta de ética e de moral, ou de vergonha na cara.

Os valores que devem ser pilares da sociedade brasileira têm sido constantemente deixados à margem da história. Já não há quem não se envergonhe de assistir a uma sessão do Superior Tribunal Federal, particularmente pelas atitudes esdrúxulas de alguns de seus atores que usam e abusam do poder de que estão constituídos.

Do Executivo e do Congresso Nacional pouco se há de falar, por falta de merecimento, uma vez que estão amplamente desacreditados por serem protagonistas dos grandes escândalos que atendem pelo nome de corrupção.

Somente uma substituição radical, pelo voto, dos seus membros, poderia fazer alguma diferença, mas aí está a questão central: não há razão substantiva para crer que isso acontecerá, exatamente porque parece existir um fetiche popular pelo desejo de ser enganado pela desonestidade dos políticos. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *