AS CARÓTIDAS, O PNEU FURADO E O [BOM] CORAÇÃO DOS IBIUNENSES

Levantei-me de madrugada hoje para fazer um exame doppler de carótidas e vertebrais, em Sorocaba. Trata-se de um exame complementar que utiliza os ultrassons que estuda, em tempo real, a anatomia e a circulação nas artérias carótidas e vertebrais, que fornecem sangue para o cérebro.

A estrada que liga Ibiúna a Mairinque não está apenas ultrapassada por sua importância e o tráfego que recebe diariamente.

Já passou do tempo de exigir melhorias, como recapeamento, iluminação, remoção de uma pedra gigantesca no meio do caminho, sinalização de advertência sobretudo das diversas lombadas, e limpeza do mato situado em suas margens.

É mais do que oportuna uma reunião entre as autoridades dos dois municípios com o propósito de concretizar melhorias que assegurem melhor segurança aos usuários daquela estrada, incluindo pacientes que são removidos para os hospitais e serviços médicos em Sorocaba.

O ambulatório médico onde me submeti ao exame estava lotado, mas, como sempre, o atendimento funcionou de modo competente, educado e profissional, em diversas especialidades.

Não poderia deixar de passar na Padaria Real tanto para observar quanto para consumir algumas das muitas delícias que enchem os olhos das maravilhas elaboradas há sessenta anos no local. Como havia prometido, trouxe dois “pudins de padaria” e uma coxinha para uma amiga ibiunense.

Logo em seguida, o sono bateu poderoso. De fato, sentia-me cansado.

Mais à tarde, depois de um cochilo restaurador, encontrei-me num café com um amigo e segui para o supermercado Ibiúna onde adquiri ingredientes para uma torta de palmito com ervilhas.

Quando retornei ao carro no estacionamento fazia um calorão e o pneu estava furado com um pequeno espaço de intervalo com outro veículo ao lado.

Abri o capô, retirei o estepe, o macaco e a chave de roda. Tive que fazer uma malabarismo circense para desengripar as porcas apertadas ao extremo. Para dar a primeira soltura usei o pé fazendo uma força que resolveu a parada, mas não conseguia acionar o macaco. Fiquei tentando quando, de repente, surgiu um rapaz oferecendo ajuda. “Quer que eu pegue meu macaco, está mais fácil?”.

Agradeci: “Obrigado pelo seu bom coração, Deus te abençoe! Mas, decidi aceitar o desafio de realizar o conserto, vai fazer bem para a minha mente.” Ele me olhou com bondade e aceitou minha decisão.

Suor, mãos sujas de óleo, fiquei pensando naquele ibiunense que num gesto simples de bondade e solidariedade se dispôs a interromper o que estava fazendo, a fim de se prontificar a ajudar o seu semelhante ainda que desconhecido.

Ele surgiu de repente como um anjo e me senti feliz por imaginar que nossa cidade tem esse amor fraterno no coração de muitos dos nossos conterrâneos. Ele não pediu nada em troca, só queria ajudar.

Como estou vivendo uma fase mística, acreditei que esse episódio foi uma resposta a um sentimento que vem me tocando nos tempos difíceis em que vivemos. Observando bem as pessoas de todas as idades e nas mais diferentes situações percebi uma luz de compaixão pelos outros da minha cidade.

E isso me preencheu de esperança nesse nascer de um novo ano de que o amor se irradie em todas as direções e que nos tornemos mais humanos e solidários uns com os outros. Não ignoro que a dureza da vida tende a nos tornar mais individualistas, mas jamais abrirei mão de acreditar que existe uma bondade inata nos corações dos ibiunenses. (C.R.)

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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