OLHAR DE UM IBIUNENSE DA MAIS PAULISTA DAS AVENIDAS

Passei a maior parte do dia na avenida Paulista. Ali trabalhei em duas oportunidades. Uma no piramidal edifício da Fiesp, outro do Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, que há tempos deixou de existir, tendo sido incorporado pelo Banespa que, por sua vez, foi vendido para o Santander.

As coisas estão sempre em processo de mudança ou, na linguagem budista de alta precisão, são impermanentes. Há um filme protagonizado por Brad Pitt como o oportuno título “Nada é para sempre”, o que existe são apenas movimentos e transformações.

Como cheguei na hora do almoço, vi multidões de homens engravatados e mulheres bem-vestidas saindo dos prédios de escritório e transformar as largas calçadas em formigueiro humano, pessoas em busca dos muitos restaurantes e lanchonetes.

Caminhar por ali exigiu habilidades de um rio que precisa fazer desvios para seguir em direção ao seu destino. Na avenida Paulista você vê os tipos humanos mais liberados e, se prestar atenção, ouve conversas em espanhol, inglês, francês, italiano, o que indica a presença de turistas de várias origens.

No Trianon há bancas de artesãos, homens deitados nas calçadas, duas unidades de base, uma da Polícia Militar e outra da Guarda Civil Metropolitana e algumas peruas com a inscrição “resgate”. Policiais militares também circulam em bicicletas pelas calçadas, ora de um lado ora de outro da que é considerada a mais paulista das avenidas.

No espigão onde moravam em belos palacetes os barões do café, um foi transformado em agência bancária, outro se mantém dignamente em pé, com as marcas dos centenários passados. A única coisa que restou da antiga avenida Paulista são fotos históricas dos casarões com magníficos jardins e as fileiras de árvores simetricamente dispostas e nada mais.

A grande parte das pessoas que circulam nas calçadas, atravessam na faixa para pedestres, em geral caminham em pares ou pequenos grupos falantes, mas na mistura geral há muitos personagens solitários que parecem não se dirigir para lugar algum e que apenas caminham ora numa ora noutra direção.

Um grupo de homens vestidos de palhaços interrompem os passos de muitos pedindo atenção para algo que mostram, sem parar de falar. Um violonista solitário toca durante horas, utilizando uma caixa de som, exibindo alguns CDs de sua autoria por R$ 10,00. Gente de patinete, bicicleta, skate, patins se cruza pelo caminho.

Aos poucos, passada a hora do almoço, as pessoas vão sumindo de volta aos prédios.

De repente, cai uma tempestade, com raios assustadores, rajadas de vento que levavam as gotas de água até próximo ao centro do imenso salão do Conjunto Nacional.

Do antigo relógio que ficava em seu topo e era visto a quilômetros de distância só restam três estruturas enferrujadas onde se fixavam as lâmpadas que marcavam as horas num imenso painel luminoso, mencionado em um dos contos eróticos do escritor Inácio de Loyola Brandão.

Das estações do Metrô instaladas ao longo da Paulista brotam de instante a instante pessoas que se movimentam, a maioria sempre demonstrando ter pressa de ir para algum lugar e de voltar para pegar um trem de um dos melhores metrôs do mundo.

Na verdade, qualquer coisa que se fala da avenida Paulista sempre parecerá pouco ou insuficiente diante de sua grandeza e importância viária, que serve a um dos maiores complexos hospitalares da capital paulista e local de visita de turistas de todas as partes do mundo e um cenário da maior relevância política e de concentração humana para diversos eventos.

Há pessoas que amam a avenida Paulista, algumas gostariam de morar nos prédios residenciais que lá existem. Entre os motivos, talvez o maior dele seja a sensação de que estando lá se sintam conectadas com a energia de um lugar onde as coisas acontecem.

Enfim, passei um dia feliz na avenida por estar junto com duas pessoas que amo incondicionalmente. Almoçamos no Shopping Cidade São Paulo e tomamos água [fazia um calor imenso] no sempre elegante e agradável café da Livraria Cultura. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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