SEM ALINHAR LINGUAGEM, PROSSEGUIRÃO AS DIFERENÇAS ENTRE BOLSONARO E SEUS MINISTROS
É muito precoce julgar o governo de Jair Bolsonaro e também é compreensível, nos primeiros momentos, que as coisas estejam um tanto confusas. Afinal, assumir o comando de um transatlântico de dimensões continentais como o Brasil exige um complexo conjunto de providências.
No entanto, é dever de ofício constatar e interpretar atos verbais contraditórios ou excessivamente superficiais como, por exemplo, admitir a possibilidade de uma base militar norte-americana no Brasil e, em seguida, afastá-la. Qual seria a estratégia geopolítica a justificar uma medida desse porte, senão sinalizar o interesse de uma aliança de negócios privilegiada?
Além do mais, porque o governo norte-americano faria um investimento dessa natureza se não há nenhum indício de ameaça ao tio Sam, com exceção da Venezuela, que está ditatorialmente fazendo seu povo sofrer muito além do suportável. Cuba, por outro lado, acaba de anunciar uma nova Constituição em que admite a propriedade privada e a obtenção de lucro privado, dois postulador do capitalismo.
Além desse episódio, já houve outros como o desmentido aumento do Imposto sobre Operações Financeiras, assim como a redução do índice do Imposto de Renda, anunciado pelo chefe do Executivo, em seguida desmentido por seus auxiliares.
O mesmo aconteceu com o anúncio da paralisação da reforma agrária cujas ordens foram canceladas pelo Incra.
O que fatos como esse refletem é exatamente a falta de uma clara definição de missão do atual governo que contemple uma visão holística de todo o processo de gerenciamento administrativo e político do país.
O que se percebe, como projeção daqueles atos, é uma mentalidade marcada por ideias ou conceitos fragmentários que, no passado poderiam ser chamados de casuísticos, como palavras jogadas ao ar diante de microfones e câmeras de TV ligados ou postagens nas redes sociais, como as que aquecem as medidas visando a liberação de armamentos para autodefesa da sociedade civil que pode criar um problema pior do que aquele que pretende combater.
Nesse caso, basta que o governo fortaleça de modo abrangente e inteligível a sua estrutura de combate e inibição da violência geral que assola o país que dilacera os princípios elementares do direito de isonomia e de liberdade com segurança da população de bem. É um equívoco lamentável ignorar o dever de separar o joio do trigo, pois o Brasil não pode ser transformado num cenário de guerra civil, quando se pode vencer todas as formas de bandidagem com inteligência, firmeza de propósito e de ações.
O ataques virulentos, como o que ocorre no estado do Ceará, pode ser visto como um teste de habilidade, competência do incipiente governo federal no controle de conflitos, pondo um fim exemplar, mas não abusivo, a uma prática com características de terrorismo, combatido com rigor inflado pelos militares na década dos anos 1960.
Pacificar o país com energia, submetendo a ousadia exacerbada de organizações que se impõe contra a ordem estabelecida, tão cara no dístico da bandeira brasileira, é uma exigência da nação, que nunca experimentou tanta violência generalizada fora de controle.
Em suma, o novo governo brasileiro ainda não construiu um discurso lógico, coerente e inteligível e essa é a razão de sua presente imagem constituída por fragmentos de projetos apenas espasmódicos.
Há opositores e adversários frios e calculistas do atual governo, não se pode desprezar essa realidade. Mas há, igualmente, uma expectativa de largas parcelas da população de que Bolsonaro consiga atuar com lucidez e coerência, mesmo considerando as diferenças e adversidades dentro do seu próprio quadro de colaboradores diretos.
Por último, mas não menos importante, repetimos aqui que o novo presidente precisa da verdade para proteger seu governo. Acrescento agora que precisa experimentar o que chamo de transparência responsável, para vencer os obstáculos pela frente e merecer o apoio da população. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)