UMA HISTÓRIA PODE MUDAR SUA VIDA

Lewis Carroll, fabulista inglês, autor de Alice no País das Maravilhas, narra um episódio feito como mão e luva para quem acalente o desejo de se conhecer melhor.

“A Lagarta e Alice olharam uma para a outra em silêncio por algum tempo. Então, finalmente, a Lagarta tirou o narguilé da boca e dirigiu-se a Alice com voz lânguida, sonolenta:

— Quem é você? – perguntou.

Alice respondeu, um tanto tímida:

— Eu…até agora não sei ao certo, senhor. Ao menos eu sabia quem era, quando me levantei esta manhã, mas acho que isso mudou diversas vezes desde então.

Chuang-Tzu (“Mestre Zhuang”), sábio chinês que viveu por volta do século IV a.C., conta a seguinte história:

“Certa vez, eu, Chuang-Tzu, sonhei que era uma borboleta que se agitava para cá e para lá, quando subitamente fui acordado. Agora, eu já não sabia mais se era um homem sonhando que era uma borboleta ou uma borboleta sonhando que era um homem.”

A dúvida de Alice é idêntica à de Chuang-Tzu e de uma infinidade de seres humanos espalhados pela superfície da Terra. Isso mesmo: não sabemos quem somos ou ignoramos a natureza da nossa essência.

Nós vemos o mundo por meios dos nossos sentidos: ouvimos o mundo, sentimos o mundo, cheiramos e provamos o mundo, cada um de forma diferente do outro, mas estamos muito distantes de sabermos quem somos, por termos nossa atenção voltada para fora de nós, ao mundo físico.

Além disso, nossa mente vive atulhada de pensamentos, imagens e sensações que independem de nossa vontade. Eles vêm das profundezas de nosso inconsciente como produtos do nosso cérebro, que é um processador de informações 24 horas, mesmo quando dormimos e sonhamos.

O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), não se preocupe se você não ouviu falar dele, o importante é o que ele disse: é impossível conhecer “as coisas em si”, mas apenas “as coisas como as percebemos”, ou seja, nossa percepção da realidade exterior ou do nosso interior é sempre relativa à capacidade do nossos órgãos do sentido, do nosso cérebro e das experiências que temos em nossas vidas.

Embora jamais possamos ter uma consciência [percepção] absoluta do que nós somos, pelo fatos de sermos muitos “eus” a cada instante, com esforço contínuo podemos nos aproximar da realidade [verdade], que humildemente devemos aceitar como suficiente para quem se viu lançado no mundo, sem pedir para vir e sem pedir para dele sair.

Mas, felizmente, existe uma brecha, um ponto de luz, para nos conhecermos cada vez mais até um ponto em que se pode ser livre para conviver de modo mais harmonioso conosco por meio de informações práticas do mundo em que vivemos.

Sim. Podemos experimentar paz, amor, felicidade, equilíbrio, bem-estar, ainda que sejam sentimentos impermanentes ou passageiros. São afortunados indivíduos que vivem a experiência de visitarem sua essência, por meio da meditação ou outras formas de introspecção [reflexão que a pessoa faz sobre o que ocorre no seu íntimo, sobre suas experiências]. Isso também pode ser chamado de “tomada de consciência” do que ocorre em sua mente.

Esse talvez seja um dos milagres [sensação  de maravilhamento] mais desejados pelo gênero humano há milênios. Também pode ser interpretado como “o desejo supremo de ser feliz”, em oposição à certeza do fim em algum momento. Essa procura é buscada pela religião e pela ciência.

O lado bom e positivo dessa história é que, em princípio, todos podemos fazer descobertas maravilhosas sobre nós mesmos, bastando dedicarmos, de modo simples e tranquilo, algum tempo de atenção sincera à nossa natureza essencial.

O início desse processo pode ser um desafio porque toda mudança nos torna diferentes do que somos e isso vai de encontro à preguiça ou por nos sentirmos incapazes de persistir no objetivo tão relevante para nossa vida. Mas, com o tempo, se verá que tudo que é necessário para você descobrir quem é e qual seu papel na Terra e realizar seus sonhos, é uma autorrealização plena. (Carlos Rossini é editor de vitrine online – atua também em treinamento de pessoas, individualmente ou em grupos nas empresas)

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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