BRUMADINHO – É INDESCRITÍVEL A DOR DAS MORTES E DEVASTAÇÃO AMBIENTAL PROVOCADAS PELA LAMA DA BARRAGEM

O operador de caminhões Arildo de Amorim Carmo havia acabado de chegar à parte alta da mina. Iria descarregar o minério de ferro, antes de almoçar. Era perto das 13 horas da última sexta-feira (25). Do ponto onde se encontrava, viu a lama transbordar e levar o refeitório e o escritório da empresa, onde se encontravam muitos funcionários. A barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, acabava de se romper. “Foi muito rápido, 30 ou 40 segundos. Só aquela fumaça, aquela poeira preta, não ouvia barulho nenhum.”

Tinha início uma das maiores tragédias já ocorridas no Brasil, com uma devastação gigantesca, causada por 13 milhões de rejeitos de minério de ferro, numa onda de lama que se esparramou por quilômetros até atingir o rio Paraopeba, e que ainda segue adiante mais lentamente em direção ao rio São Francisco.

Os dados oficiais divulgados hoje (30) dão conta de que foram resgatados pelo Corpo de Bombeiros 99 corpos, havendo ainda 259 desaparecidos. Essas informações indicam a possibilidade de terem morrido mais de 300 pessoas, grande parte das quais os próprios funcionários da mineradora.

Ainda hoje (30), a Justiça mineira proibiu novos licenciamentos de barragens, como a de Brumadinho e de Mariana, construídas com uma das técnicas mais baratas e consideradas obsoletas. Essa decisão, segundo o UOL, ocorreu dois anos após outra tragédia, em 2015, quando a barragem da mineradora Samarco, da qual a Vale S.A. é sócia, se rompeu matando dezenove pessoas e provocando um lamaçal que escorreu ao longo do Rio Doce até o Oceano Atlântico, provocando destruição de tudo que encontrou pela frente.

DINHEIRO A POLÍTICOS

De acordo com o livro A questão mineral no Brasil, citado pelo UOL, seis empresas do grupo Vale, responsável pela barragem que rompeu em Brumadinho na última sexta-feira, distribuiu R$ 79,3 milhões “entre políticos de todos os partidos e esferas de governo nas eleições de 2014″, exatamente um ano antes do rompimento da barragem de Mariana.

Assim, não fica difícil entender porque diversos projetos de lei em defesa do meio ambiente e, portanto, disciplinando as atividades de mineradoras, por exemplo, foram engavetados.

Comentaristas políticos da Globo News comentaram, no calor da comoção pública causada pela tragédia de Brumadinho, que existem “bancadas das mineradoras” tanto no Congresso Nacional quanto na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Nesse contexto, se destaca um dos fatores contribuintes da tragédia de Brumadinho e de Mariana.

Outro fator se insere no contexto dos relatórios produzidos por empresas de consultoria contratadas pela Vale para atestar os graus de risco em suas barragens de rejeitos de minério. Pelo menos dois engenheiros e três outros profissionais foram presos esta semana, sob a suspeita de terem produzido laudos forjados, a favor de sua cliente.

Depois da lama derramada, com trágicas consequências, a diretoria da Vale anunciou que vai desativar outras de suas mineradoras construídas com a mesma técnica das duas barragens rompidas, o que, segundo informou um professor especialista da Escola Politécnica da USP, deverá levar anos para isso acontecer.

Não há como pensar diferente de que o rompimento da barreira feita com uma técnica mais barata tenha sido um mero acidente. Deve-se mesmo tratar de um crime de responsabilidade, pois os riscos eram conhecidos e foram levados com a barriga porque a fome de lucro fácil para adoçar os acionistas norte-americanos e fundos de pensão deve ser outro fator a ser considerado. Espera-se que a Justiça haja com rigor e puna exemplarmente os responsáveis para que se ponha um fim a uma tradição de explorar as riquezas minerais do Brasil desde a descoberta por Cabral. O Brasil, e especialmente o Estado de Minas Gerais por ser abundante em riquezas minerais, incluindo ouro, diamante e outras pedras preciosas, pagam um preço demasiadamente alto com vidas humanas perdidas, fauna, flora e seus preciosos rios.

ESPINHAÇO MERIDIONAL

De acordo com dados do IBGE, os desbravadores da região Espinhaço Meridional [a porção centro-norte do Estado de Minas Gerais] onde hoje se situa o município de Brumadinho foram bandeirantes paulistas, chefiados por Fernão Dias Paes Leme, que fundaram inicialmente um núcleo de abastecimento da bandeira, pousos de repouso de tropas e lugar de levantamento dos mantimentos.

De ponto de abastecimento de víveres, passou a pequeno arraial de mineradores. O desenvolvimento da cultura cafeeira e a possibilidade de se extrair e exportar minérios de ferro, abundantes na região, provocaram a construção do ramal do Paraopeba da Estrada de Ferro Central do Brasil, fazendo nascer e desenvolver o povoado, com a chegada de trabalhadores e imigrantes estrangeiros.

Começou assim o povoado a tomar aspectos de uma pequena cidade, já com um pequeno comércio estabelecido, várias moradias e uma população fixa de tamanho razoável. O topônimo Brumadinho foi dado à Estação construída no lugar e tem origem na derivação do nome do povoado mais próximo, Brumado e Paraopeba. O nome Brumado, por sua vez, refere-se às brumas que se formam com frequência na região montanhosa.

BRUMADINHO ANTES DA TRAGÉDIA

Brumadinho é um município do estado de Minas Gerais, Região Sudeste do país. Está localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte e sua população estimada em 2018 era de 39 520 habitantes. Suas belezas naturais numa geografia montanhosas, culturais, artísticas, naturais atraíram sempre grande número de turistas brasileiros e do exterior.

Brumadinho tem (?) sua principal base econômica sustentada pela atividade da mineração, sobretudo pela atuação da Vale S.A., e possui até então, inúmeros atrativos turísticos, turismo cultural e ecológico que também movimentam a economia local, a exemplo: o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça,a Serra da Moeda (local de prática de esportes radicais), o circuito turístico de Veredas do Paraopeba, que engloba vários conjuntos paisagísticos e que são considerados patrimônios históricos tombados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, onde incluem edificações construídas no século XVIII, a exemplo da Fazenda dos Martins, o povoado histórico de Piedade do Paraopeba, a histórica tricentenária Igreja Nossa Senhora da Piedade inaugurada em 1713 com ricos elementos artísticos e sacros, a Igreja Nossa Senhora das Dores na localidade de Córrego do Feijão, o distrito de Casa Branca, vilarejo rodeado por montanhas, abrigando pousadas e uma gastronomia baseada na culinária tradicional mineira, e o Instituto Inhotim, o maior museu a céu aberto da América Latina [felizmente não foi atingido], com uma das mais expressivas coleções de arte contemporânea do Brasil, no distrito de mesmo nome; que atraem muitas pessoas pela quantidade de belezas locais e regionais.

Corporação Musical Banda São Sebastião, fundada em 13 de maio de 1929 por Tarcílio Gomes da Costa, é uma atração à parte e é inclusive mais antiga que a própria instalação do município de Brumadinho, tendo completado 80 anos de existência em 2009.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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