TRAGÉDIA EM SUZANO – PÂNICO, TERROR, E MORTE

Quando se dissipar a nuvem escura da desgraça em forma de uma dolorosa tragédia ocorrida na manhã de hoje (13) na Escola Estadual Raul Brasil no município de Suzano, ainda assim, restará para sempre uma dor nos corações dos familiares que perderam seus filhos em um alucinante ataque feito por dois rapazes – Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique Castro, 25, ex-estudantes da mesma escola.

Armados com revólver, machadinhas [com uma delas feriram um estudante nas costas] e uma besta arma criada na Idade Média – um arco que dispara flechas – mataram 5 estudantes, duas funcionárias. Momentos antes, um dos rapazes disparou contra o tio, conhecido como Jorginho, que morreu, dono de uma loja de carros, onde roubaram um Onix Branco no qual se dirigiram à escola onde praticaram o ataque.

Ambos, quando estavam num corredor em frente à porta de uma sala fechada às pressas onde havia 25 alunos, se viram diante de policiais. Nesse momento, segundo o comandante da Polícia Militar do Estado de São Paulo, um comparsa atirou no outro e, em seguida, este suicidou. Os policiais militares estavam exatamente à procura do Onix que acabara de ser roubado.

Em 2011, em Realengo no Rio de Janeiro doze adolescentes, dez meninas e dois meninos morreram num massacre semelhante. Um ex-aluno da mesma escola fez diversos disparos contra as vítimas na sala de aula. Há outros registros.

Há outros registros policiais. Um em Goiania, em 2017, Um adolescente, usando uma pistola .40 pertencente à mãe, policial militar, matou dois colegas e feriu outros quatro. Em Salvador, um jovem de 17 anos, matou duas colegas dentro da sala de um colégio particular.

Esse tipo de crime, no entanto, é mais frequente nos Estados Unidos, tendo como cenário escolas, principalmente, e onde a venda de armas é livre.

A polícia paulista enfrenta o desafio de buscar a motivação da tragédia em Suzano, muito trabalho deverá ser feito para reconstituir uma história que foi engendrada nas mentes dos dois rapazes assassinos.

Das muitas imagens que vi sobre a tragédia, uma em particular parece sintetizar o horror, o choque, o pânico, os disparos que atingiram adolescentes na hora do intervalo das aulas, durante o recreio. É a foto que reproduzimos neste comentário. Um adolescente, com seu par de tênis, tem algo mais jovem que um par de tênis?, sendo carregado por socorristas para um hospital.

Houve sinais da intenção e da premeditação do ataque. Um dos rapazes postou foto usando uma máscara com uma expressão ameaçadora. Também teria dito para que os alunos da escola, onde estudaram, “se preparassem”.

O governador paulista declarou que a cena foi “a mais triste com que se deparou em sua vida”.

Esse ato de uma crueldade inaceitável não está isolado da violência que se instalou no País e que cresce a cada dia sem que as autoridades se mostrem competentes para ao menos reduzi-la. E ainda pretendem liberar a compra e posse de armas num País em que um considerável número de pessoas nem sequer tem noções básicas sobre o valor da vida humana.

Vemos autoridades exibindo armas como se fossem brinquedos e envenenando a população de que ter uma arma é garantia de segurança pessoal. Só bandidos estão verdadeiramente preparados para usá-las, somente insanos e psicopatas fazem uso desses instrumentos mortais, boa parte deles sem sentir o menor remorso. Psicopatas até se divertem e sentem prazer quando abatem alguém.

O que aconteceu hoje tinge de sangue e dor toda a sociedade.

Mesmo que a dor dos familiares atingidos diretamente pela tragédia possa ser inconsolável, fazemos votos que suas mentes encontrem ao menos um sentido para prosseguir a dolorida jornada que têm pela frente. (C.R.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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